Se o total de mortos nos diferentes conflitos já atinge os quase 50.000 e o de feridos a ultrapassar largamente os 100.000, a esperança reside nas negociações com vista à paz em curso entre Israel e o movimento de resistência islâmica palestiniano, sendo ainda uma incógnita se o exemplo da trégua de Telavive com o Hezbollah libanês trará novos incentivos à pacificação do Médio Oriente.
Por outro lado, os surpreendentes desenvolvimentos na Síria, com o fim de 54 de regime autocrático e repressivo do clã al-Assad (Hafez, pai, e Bashar, filho), a 08 deste mês, vêm aumentar, por um lado, as incertezas em relação ao tipo de governo que poderá sair de Damasco, e, por outro, se ajudará aos esforços de paz na região.
Se a Rússia parece mais envolvida na Ucrânia (afirmou-se surpreendida com a facilidade com que os rebeldes e milícias congregadas em torno da Organização para a Libertação do Levante (OLL ou Hayat Tahrir al Sham, HTS, em árabe), apoiados pela Turquia, que tomaram Damasco após 12 dias de ofensiva quase sem resistência) --, o Irão já admitiu que o 'Eixo da Resistência' -- que inclui o Hamas, o Hezbollah, os rebeldes Huthis, do Iémen, e uma miríade de milícias no Iraque e, até agora, na Síria -- será afetado pela queda de al-Assad.
Impensável até ao início deste mês que a Síria viesse baralhar todo o momento político e militar no Médio Oriente, certo é que os Estados Unidos e Israel, apoiados também por milícias sustentadas pela Turquia, mostraram-se favoráveis à coligação liderada pela OLL, desconhecendo-se, a partir daqui, o que irá suceder.
Ao longo de todo o ano de 2024, sucederam-se no Médio Oriente confrontos armados que afetaram a grande maioria dos países da região, provocando um número de mortos inusitado em conflitos em que Hamas e aliados, de um lado, e Israel e parceiros, do outro, afirmam que podiam ser resolvidos rapidamente se houvesse vontade política.
Tal como na Ucrânia, quando Moscovo proclamou que a invasão iniciada a 24 de fevereiro de 2022 teria êxito em poucas semanas, também Telavive disse acreditar que resolveria rapidamente a retaliação ao ataque do Hamas - que matou 1.200 pessoas e sequestrou 250 a 07 de outubro de 2023 - aniquilando o movimento islamita.
Com o conflito a centrar todas as atenções ao longo de 2024, a guerra aberta alargou-se também ao movimento xiita libanês pró-iraniano Hezbollah, com quem Israel assinou uma trégua de 60 dias a 27 de outubro passado, e ao Iémen, através dos rebeldes Huthis (no poder em três quartos do país), que "controlavam", com mísseis, os interesses israelitas no Mar Vermelho.
Pelo meio, ao longo de todo o ano, Qatar, Egito, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos tentaram encontrar uma solução para o conflito entre Israel e o Hamas, mas, sempre que avançavam, Israel tirava uma carta da manga e atacava cirurgicamente, com enormes perdas de civis, os responsáveis quer do Hamas quer do Hezbollah.
Apanhados desprevenidos no ataque do Hamas, os serviços secretos israelitas procuraram, desta forma, atenuar as falhas quer com os inusitados ataques com explosivos nos 'pagers' e nos 'walkie-talkies' de dirigentes do Hezbollah, que com a eliminação dos líderes do movimento, primeiro Hassan Nasrallah e depois Sashem Safiedine -- daí a trégua parecer ter sido mais facilitada.
Do lado do Hamas, Israel também foi eliminando vários líderes ao longo do ano -- entre outros, Yahya Sinwar, considerado o líder da "linha-dura" do movimento (morto em outubro), Mohammed Deif, chefe do Estado-Maior do Hamas (agosto), Ismail Haniyeh, líder do movimento (julho), e Saleh al-Arouri, chefe das operações do Hamas na Cisjordânia (janeiro).
Um fator a ter em conta que já se faz sentir na região é o peso que poderá ter o futuro Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, eleito a 05 de novembro e que será empossado a 20 de janeiro de 2025, sobretudo em relação ao impacto que pode ter no seu homólogo russo, Vladimir Putin, mas também na conturbada ligação com o Irão.
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