"2024 foi o ano mais mortífero de sempre para a costa norte de França, com pelo menos 75 pessoas a morrerem em tentativas de atravessar o Canal da Mancha. Mas, em vez de fornecer a proteção e o abrigo que ajudariam os sobreviventes dos naufrágios, as autoridades francesas responderam apenas reforçando as medidas de segurança" acusou a organização não-governamental.
Em comunicado, os MSF garantiram estar a "compensar as falhas dos serviços de emergência franceses, oferecendo ajuda médica e psicológica aos sobreviventes abandonados pelo Estado".
Relatando o caso de um sobrevivente que viu a irmã morrer e a sua tenda ser desmantelada de um acampamento em Calais, a organização cita ainda a psicóloga Chloé Hannebouw sobre a importância de "tratamento psicológico nas horas ou nos dias que se seguem a um acontecimento potencialmente traumático e prevenir stress.
Os MSF referem que a autarquia de Pas-de-Calais teoricamente elaborou um "protocolo especial de assistência humanitária para acolher os sobreviventes de naufrágios na costa norte", mas os "serviços públicos têm frequentemente dificuldade em prestar apoio médico e psicológico adequado às necessidades urgentes dos sobreviventes".
"A falta de recursos disponíveis é uma opção do Estado francês de militarizar e proteger a fronteira em vez de proporcionar um acolhimento adequado", criticou a mesma fonte, enumerando a falta de formação, escassez de mediadores e intérpretes e a inadequação dos alojamentos de emergência.
Chloé Hannebouw, que tratou 86 pacientes desde janeiro, notou como "os migrantes, os requerentes de asilo e os refugiados raramente procuram ajuda de forma proativa", encarando muitas vezes como uma "barreira" a deslocação a locais específicos quando até desconhecem o sistema e a língua.
Élise Houard, enfermeira de MSF em Calais, acrescentou ainda a necessidade de tratar ferimentos como "queimaduras causadas pelo contacto prolongado da sua pele com uma mistura de combustível e água do mar ou por uma explosão no barco".
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