"Vemos sinais claros de limpeza étnica à medida que os palestinianos são deslocados à força, presos e bombardeados", denuncia o secretário-geral da MSF, Christopher Lockyear.
Intitulado "Gaza: a vida numa armadilha mortal", o relatório documenta, em particular, 41 ataques contra profissionais da MSF, incluindo ataques aéreos contra estabelecimentos de saúde e fogo direto contra comboios humanitários.
A organização foi obrigada a evacuar hospitais e centros de saúde 17 vezes.
Segundo a MSF, o cerco imposto por Israel reduziu drasticamente a ajuda humanitária, com apenas 37 camiões por dia a serem autorizados a entrar durante outubro de 2024, em comparação com os 500 antes do conflito.
O norte do território, refere a MSF, particularmente o campo de Jabalia, tem sofrido uma ofensiva de "extrema violência" desde o início de outubro.
As equipas médicas da organização internacional realizaram mais de 27,5 mil consultas e 7,5 mil intervenções cirúrgicas num ano e observaram uma rápida propagação de doenças numa população que está 90% deslocada e que vive em condições insalubres, com um aumento preocupante de casos de subnutrição.
A organização denuncia também o bloqueio às evacuações médicas, tendo Israel autorizado apenas 1,6% dos pedidos feitos entre maio e setembro deste ano.
A MSF apela a um cessar-fogo imediato e ao levantamento do cerco para permitir o transporte de ajuda humanitária em quantidade suficiente para as necessidades crescentes e pede aos "Estados, nomeadamente aos aliados mais próximos, para que acabem com o seu apoio incondicional a Israel".
Num outro relatório publicado hoje, uma outra organização não-governamental (ONG), a Human Rights Watch (HRW), acusa Israel de cometer "atos de genocídio" na Faixa de Gaza ao restringir deliberadamente o acesso de água aos palestinianos.
Mais de 45 mil palestinianos foram mortos na campanha militar israelita de retaliação na Faixa de Gaza, a maioria dos quais eram civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo islamita Hamas, sendo os números avançados considerados credíveis pela ONU.
Esta guerra começou após um ataque a território israelita realizado a 07 de outubro de 2023 pelo Hamas, que provocou a morte de cerca de 1.200 pessoas e o rapto de cerca de 250 outras, a maioria das quais civis, segundo dados israelitas.
Israel prometeu exterminar o grupo islamita e iniciou uma operação de retaliação de grande envergadura na Faixa de Gaza, mas o conflito estendeu-se ao Líbano por o Hezbollah ter atacado alvos israelitas para ajudar o Hamas.
O Hezbollah e o Hamas, bem como outros grupos islamitas da região, integram o chamado "eixo de resistência" contra Israel liderado pelo Irão, e que integrava ainda a Síria governada por Bashar al-Assad, cujo regime acabou por cair a 8 de dezembro, após uma ofensiva relâmpago de forças rebeldes.
Leia Também: Barco da MSF suspende operações no Mediterrâneo por "leis absurdas" de Meloni