O marido e principal arguido, Dominique Pelicot, condenado a 20 anos de prisão por ter drogado a sua mulher Gisèle para a violar e deixar violar por cerca de meia centena de homens, não vai recorrer da sentença proferida pelo tribunal, afirmou hoje a sua advogada, Béatrice Zavarro.
No entanto, 17 dos condenados interpuseram recurso, anunciou o Procurador do Tribunal da Relação de Nîmes (sul de França), Xavier Bonhomme.
"O recurso deverá ser apreciado pelo Tribunal de Gard", desta vez por um júri popular, numa data ainda não determinada, entre setembro e dezembro de 2025, acrescentou Bonhomme em comunicado.
Dominique Pelicot, de 72 anos, foi condenado em 19 de dezembro a 20 anos de prisão pelo Tribunal de Avignon, no sul de França, por violação agravada.
Pelicot, que admitiu ter violado e drogado com ansiolíticos a vítima durante anos para a sujeitar a violações por dezenas de desconhecidos recrutados na Internet, foi condenado com a pena máxima em França, a primeira sentença do caso proferida contra os arguidos, com idades entre os 27 e os 74 anos, acusados de agressão sexual e violação.
O principal arguido foi também considerado culpado de filmar e possuir imagens tiradas sem o conhecimento de Gisèle, de 72 anos, tendo registos de quase 200 violações, mas também por ter imagens da filha e das noras.
Gisèle Pelicot, de 72 anos, tornou-se um ícone feminista, sobretudo por ter recusado que este processo extraordinário se realizasse à porta fechada, para que "a vergonha mudasse de lado" e deixasse de pesar sobre os ombros das vítimas de violação.
O Ministério Público tinha pedido pena máxima para o principal arguido, Dominique Pelicot, e que os restantes acusados de violação fossem condenados a penas entre 10 a 18 anos, com exceção de um julgado por agressão sexual agravada, com uma pena de quatro anos de prisão.
O painel de cinco juízes determinou que todos são culpados de crimes diferentes, embora em alguns casos tenham atribuído sentenças muito inferiores às requisitadas pelos procuradores, com alguns arguidos a saírem em liberdade por terem recebido penas suspensas.
O tribunal proferiu penas que vão desde três anos de prisão, dois dos quais suspensos, até aos 20 anos de pena máxima de Dominique.
Quatro coarguidos foram condenados a cinco anos de prisão, parcialmente suspensos, por violação ou tentativa de violação.
O "discípulo" de Dominique, Jean-Pierre Maréchal, de 63 anos, foi condenado a 12 anos de prisão, em vez dos 17 solicitados pelo Ministério Público, por violar e drogar a própria mulher e deixar que Dominique a violasse durante um período de cinco anos.
Dos 17 homens que recorreram, alguns, como Cyrille D., um trabalhador da construção civil condenado a oito anos de prisão, contestam as suas sentenças, mas não o veredicto de culpado, disse o seu advogado, Paul-Roger Gontard, à agência francesa AFP.
Os factos em julgamento ocorreram entre 2011 e 2020, primeiro na região de Paris e, a partir de 2013, na casa para onde o casal Pelicot se mudou quando ambos se reformaram, situada em Mazan, uma aldeia de 6.000 habitantes perto de Avignon.
As provas de todos os crimes foram encontradas pela polícia em mais de 20.000 vídeos e fotografias presentes no computador de Dominique em 2020, depois de ter sido detido por filmar por baixo das saias de mulheres num supermercado.
Os investigadores contaram um total de 72 violadores diferentes, sem conseguir identificar todos.
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