A comissão parlamentar da Câmara dos Representantes que investigou o assalto conduziu dez audiências públicas em 2022, delineando uma cronologia ao minuto dos acontecimentos naquela quarta-feira, em que seriam certificados os resultados da eleição de Joe Biden, na sequência da vitória deste sobre Donald Trump, que não reconheceu a derrota.
O dia começou com o chefe de gabinete Mike Meadows e o republicano Jim Jordan a trocarem mensagens SMS, sobre a pressão para que o vice-presidente Mike Pence rejeitasse a certificação. Às 9h24, Trump e Jordan falam ao telefone. Antes das 10h00, o vice-chefe de gabinete Tony Ornato avisa Trump que os seus apoiantes na Elipse, onde ele vai discursar, estão armados com pistolas, espingardas e setas, entre outras armas brancas.
Trump pede aos funcionários que retirem os detetores de metais da Elipse. "Eles não estão aqui para me ferirem", disse, segundo o testemunho da funcionária Cassidy Hutchinson.
Por volta das 11h30, alguns manifestantes começaram a acossar congressistas republicanos à medida que chegavam ao Capitólio, exigindo que recusassem certificar a eleição de Joe Biden. Perto da Casa Branca, milhares de apoiantes juntaram-se para ouvir o Donald Trump, que começou a discursar às 12 horas locais.
"Nunca vamos desistir. Nunca vamos conceder", disse Trump, perante uma multidão ruidosa e galvanizada. "Mike Pence, espero que defendas o bem da nossa Constituição e do nosso país", afirmou, referindo-se ao seu vice-presidente, que ia presidir à cerimónia no Capitólio. "E se não o fizeres, vou ficar muito desapontado contigo".
Pence divulgou então um comunicado em que dizia que o seu papel era apenas cerimonial e não tinha poder para rejeitar a certificação. Os apoiantes de Trump começaram a dirigir-se ao Capitólio antes mesmo do final do discurso do Presidente.
Às 13 horas, a primeira massa de manifestantes, incluindo o grupo de extrema-direita Proud Boys, consegue quebrar a barreira inicial colocada pela polícia às portas do Capitólio. Cinco minutos depois, a presidente da câmara baixa, Nancy Pelosi, dava início à sessão conjunta do Congresso para iniciar a certificação.
É nesse momento que Trump termina o discurso e pede aos apoiantes que marchem: "Vamos para o Capitólio. Vamos tentar dar aos republicanos o tipo de orgulho e ousadia de que precisam para reconquistar o nosso país".
Mas Trump não foi para o Capitólio, porque os seguranças o levaram de volta à Casa Branca. Os seus apoiantes marcharam para o Capitólio gritando o nome do país, enquanto lá dentro o congressista republicano Paul Gosar e o senador Ted Cruz punham em causa os resultados eleitorais. Por causa disso, as duas câmaras separaram-se para deliberar sobre a objeção.
Às 13h30, os manifestantes vão para cima da polícia nas traseiras do Capitólio e conseguem desfazer as barreiras, espancando agentes e obrigando-os a recolherem para dentro do edifício. Às 14h00, partem as janelas e entram, abrindo as portas para a multidão entrar.
É nesse momento que os Serviços Secretos levam Mike Pence para fora do Senado, seguido de Nancy Pelosi. As duas câmaras suspendem os trabalhos às 14h20, com todo o edifício a entrar em confinamento de segurança.
O polícia Eugene Goodman salva Mitt Romney e consegue evitar que os manifestantes invadam o Senado. Os congressistas estão acocorados atrás de cadeiras, enquanto lá fora se grita "Enforquem Mike Pence!".
Às 14h24, Donald Trump publica um tweet criticando o seu vice-Presidente: "Mike Pence não teve a coragem de fazer o que devia ter sido feito para proteger o nosso país e a nossa Constituição". Catorze minutos mais tarde, volta a escrever na rede social pedindo aos manifestantes que "se mantenham pacíficos".
No entanto, era o caos dentro do Capitólio. Os congressistas põem máscaras anti gás lacrimogéneo e têm de fugir, com os amotinados a invadirem o Senado antes das 15h00. O Capitólio está tomado. Membros do grupo extremista Oath Keepers movem-se em formação militar no meio dos assaltantes, que entram nos gabinetes, furtam documentos, destroem propriedade e tiram 'selfies' mostrando os despojos.
É nessa altura que mais manifestantes tentam entrar no átrio Speaker's Lobby, onde há funcionários barricados, partindo janelas e forçando a entrada. Um agente dispara sobre a manifestante Ashli Babbit, quando esta está prestes a entrar. Ela morre minutos depois.
Antes das 15h00, Trump fala com o líder da minoria republicana, Kevin McCarthy, que lhe implora para fazer alguma coisa. Mas Trump diz-lhe que está do lado dos amotinados, que se importam mais com a eleição do que ele.
Às 15h11, trancado no seu gabinete, o republicano Mike Gallagher implora a Trump que faça o assalto parar. "Você é a única pessoa que pode parar com isto. Faça-os parar. A eleição acabou. Parem".
Trump não retrata as alegações de fraude eleitoral. Às 15h36, duas horas após o início do assalto, o Presidente finalmente convoca a Guarda Nacional, algo que tinha sido pedido pelos legisladores desde o início.
Dois manifestantes morrem de ataque cardíaco, Kevin Greeson e Benjamin Phillips.
Às 16h15, o presidente eleito Joe Biden fala ao país e pede a Trump que cumpra o seu juramento de defender a Constituição. "Isto não é um protesto, é uma insurreição", clamou.
Dois minutos depois, Trump publica um vídeo empatizando com os manifestantes, dizendo-lhes que sente a sua dor e os ama. "Vocês são muito especiais. Já viram o que acontece. Viram como os outros são tratados. Sei como se sentem, mas vão para casa em paz".
Pouco antes das 18h00, a polícia reconquista o controlo do Capitólio e a presidente do município de Washington institui um recolher obrigatório durante 12 horas.
Minutos a seguir, Trump volta a dirigir-se ao público. "Estas são as coisas e eventos que acontecem quando uma vitória eleitoral esmagadora é cruelmente e sem cerimónia arrancada a grandes patriotas, que foram mal e injustamente tratados durante tanto tempo".
O Facebook e o Twitter acabam por eliminar estes vídeos e 'tweets' inflamatórios e as contas de Trump são banidas permanentemente. Pence reabre o Senado e por volta das 21h00 Pelosi reinicia a sessão. Às 03h42 da manhã, a eleição de Joe Biden é certificada.
O polícia Brian Sicknick, que foi atacado com spray, morre de ataque cardíaco a 07 de janeiro. Cinco outros agentes morreriam por suicídio nos meses seguintes.
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