O fundador da extrema-direita francesa Frente Nacional (criado em 1972), atual União Nacional (RN, sigla em francês), morreu hoje aos 96 anos e o partido considerou-o "um dos últimos deputados da IV República, um combatente na Indochina e na Argélia que defendeu, com toda a sua alma e com risco de vida, a ideia da grandeza francesa".
Em comunicado, o partido afirmou que Le Pen era "um parlamentar certamente rebelde e por vezes turbulento, mas que sempre respeitou as instituições republicanas", alcançando uma popularidade que o levou à segunda volta das eleições presidenciais [em 2002].
"A morte de Jean-Marie Le Pen é a de um imenso patriota, de um visionário e de uma encarnação da coragem. É também a morte de um homem de imensa cultura, que carregava as esperanças de milhões de franceses. Ele amava a França e fazia parte da sua história", disse o deputado e vice-presidente do RN, Sébastien Chenu, na rede social X.
La disparition de @lepenjm est celle d’un immense patriote, visionnaire et d’une incarnation du courage. C’est aussi la disparition d’un Homme d’une immense culture, qui a porté l’espoir de millions de Français. Il aimait la France, il est entré ds son Histoire. #lepen
— Sébastien Chenu (@sebchenu) January 7, 2025
"O respeito pela dignidade dos mortos e pela dor dos seus entes queridos não retira o direito de julgar os seus atos. Os atos de Jean-Marie Le Pen continuam a ser intoleráveis", afirmou em sentido contrário o líder da esquerda radical França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, numa publicação na rede social X.
Para o líder da esquerda, "a luta contra o homem acabou", porém "a luta contra o ódio, o racismo, a islamofobia e o antissemitismo que ele espalhou continua".
Le respect de la dignité des morts et du chagrin de leurs proches n'efface pas le droit de juger leurs actes. Ceux de Jean-Marie Le Pen restent insupportables. Le combat contre l'homme est fini. Celui contre la haine, le racisme, l'islamophobie et l'antisémitisme qu'il a…
— Jean-Luc Mélenchon (@JLMelenchon) January 7, 2025
Já o antigo dirigente dos Republicanos (LR), que se aliou ao RN nas eleições legislativas antecipadas de junho e julho, Eric Ciotti, saudou em comunicado "um político cuja carreira foi marcada por sombras, mas também por coragem, intuições poderosas e patriotismo sincero", apelando "à classe política para que não exagere para com a sua família".
"Apesar de a sua luta política ter sido permanentemente manchada pelos seus excessos e desvios, foi um denunciante pioneiro da imigração em massa e dos seus malefícios", afirmou Ciotti.
Segundo o ministro do Interior (LR), Bruno Retailleau, o líder "terá, sem dúvida, marcado a sua época", de acordo com uma publicação no X, em que expressou as suas "condolências a Marine Le Pen e aos que lhe são próximos".
Para o líder da extrema-direita Reconquista!, Eric Zemmour, "para além das controvérsias e dos escândalos", Jean-Marie Le Pen foi "um dos primeiros a alertar a França para as ameaças existenciais que enfrentava".
Jean-Marie Le Pen est mort. Par-delà les polémiques, par-delà les scandales, ce que nous retiendrons de lui dans les prochaines décennies, c'est qu'il fut parmi les premiers à alerter la France des menaces existentielles qui la guettaient. Il restera la vision d'un homme, et son…
— Eric Zemmour (@ZemmourEric) January 7, 2025
Le Pen foi uma figura polarizadora na política francesa até se retirar progressivamente a partir de 2011, era conhecido pela sua retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo, que lhe valeu tanto apoiantes fiéis como opositores e várias condenações, nomeadamente por negar crimes contra a humanidade.
O coordenador nacional do LFI, Manuel Bompard, referiu que Jean-Marie Le Pen não era "um grande servidor de França", mas "um torturador, um racista e um antissemita" e "inimigo da República".
"As homenagens efusivas que os seus herdeiros lhe prestam hoje recordam-nos que as suas ideias continuam vivas e que a luta antifascista continua a ser uma questão acesa", escreveu Bompard no X.
Jean-Marie Le Pen est mort.
— Manuel Bompard (@mbompard) January 7, 2025
Non, il n’était pas « un grand serviteur de la France ». C’était un nostalgique de la collaboration, un responsable de la torture, un raciste et un antisémite. C’était un ennemi de la République.
Les hommages dégoulinants de ses héritiers aujourd’hui…
"O ano de 2025 não começa muito mal, com a boa notícia da morte de Le Pen, racista, colonialista, fascista, torturador, assassino, homofóbico, etc. Mas isso não altera em nada a luta antifascista unitária que é urgente travar", afirmou Philippe Poutou, candidato da coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP) às eleições legislativas de 2024, no X.
Com a morte do antigo presidente da FN, "as suas ideias nauseabundas permanecem. Lutemos contra elas, sem tréguas", defendeu o porta-voz do Partido Comunista Francês (PCF), Ian Brossat.
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