A Irlanda juntou-se oficialmente à queixa apresentada pela África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) em Haia por alegado genocídio na Faixa de Gaza, informou a instituição judicial num comunicado hoje publicado.
Segundo o comunicado, as autoridades irlandesas apresentaram segunda-feira a documentação necessária à formalização da "declaração de intervenção" no caso, tal como anunciado pelo Governo de Dublin em dezembro do ano passado.
Especificamente, a Irlanda acredita que Israel pode estar a falhar no cumprimento de uma série de artigos da Convenção das Nações Unidas sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio com os seus ataques à Faixa de Gaza.
Em março de 2024, a Irlanda anunciou que iria intervir no caso de genocídio apresentado no TIJ pelos sul-africanos contra Israel, e, a 11 de dezembro, o ministro dos Negócios Estrangeiros irlandês, Micheal Martin, disse que tinha conseguido o apoio do gabinete e que a intervenção seria apresentada no final deste mês.
O Departamento dos Negócios Estrangeiros irlandês pormenorizou que, "ao intervir legalmente no caso sul-africano, a Irlanda irá pedir ao TIJ que amplie a sua interpretação do que constitui o ato de genocídio", argumentando que uma leitura "demasiado estreita" pode fomentar uma cultura de impunidade.
Dias depois de ouvir a decisão, o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita anunciou o encerramento da sua embaixada em Dublin e acusou a Irlanda de "ter cruzado todas as linhas vermelhas na sua relação com Israel".
Em maio passado, Israel já tinha retirado o embaixador em Dublin, depois de a Irlanda ter reconhecido a Palestina como Estado, numa declaração conjunta com Espanha e Noruega e que provocou retaliações do Governo israelita, liderado por Benjamim Netanyahu, bem como a declaração da construção de novos colonatos no território palestiniano ocupado.
A guerra em Gaza começou após um ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas ao sul de Israel, a 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas e meia de reféns, a maioria civis.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 45 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.
Apesar dos intensos esforços diplomáticos sob a tutela do Qatar, do Egito e dos Estados Unidos, não foram alcançadas quaisquer tréguas em Gaza desde um cessar-fogo de uma semana no final de novembro de 2023, que resultou na libertação de 105 reféns em troca de 240 prisioneiros palestinianos detidos por Israel.
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