A festa, os reféns e "saudade de Gaza": Há acordo nesta guerra "brutal"?

Após 15 meses de guerra entre o grupo islamita Hamas e Israel, abriu-se uma porta à paz, mas Telavive adiou a ratificação esta quinta-feira. Dos detalhes às reações, eis o que trouxe o acordo anunciado na quarta-feira.

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© EYAD BABA/AFP via Getty Images

Notícias ao Minuto com Lusa
16/01/2025 08:27 ‧ há 2 horas por Notícias ao Minuto com Lusa

Mundo

Médio Oriente

A semana ainda vai a meio mas o acordo entre Israel e o Hamas já promete ser o tema que vai marcar estes dias. O anúncio desta resolução foi feito na quarta-feira, e a este seguiram-se congratulações, festejos e alguns detalhes sobre o que ambas as partes 'fecharam'. Já esta quinta-feira, Israel atrasou a ratificação do documento, alegando que o Hamas quis criar uma "crise de última hora" e "extorquir algumas concessões".

 

O entendimento, que estava previsto entrar em vigor já no domingo, implica não só um cessar-fogo, como também aquilo a que milhares têm apelado: o regresso a casa de reféns, de ambas as partes.

O acordo surge na sequência de meses de negociações, com o Egito e o Qatar como mediadores, assim como com o apoio dos Estados Unidos.

Quando começa este acordo? E no que consiste?

Apesar de a assinatura do acordo estar suspenso, o documento que abre a porta ao fim do conflito no Médio Oriente prevê uma fase inicial de cessar-fogo de 42 dias (seis semanas) - que inclui a retirada gradual das forças israelitas do centro da Faixa de Gaza e o regresso dos palestinianos deslocados ao norte da Faixa de Gaza.

Os detalhes, adiantados pela Reuters, dão conta de que o Hamas devolveria no domingo 33 reféns, antes de se iniciarem as negociações dos restantes 65 (o que deverá começar a ser conversado daqui a duas semanas). Depois da libertação do primeiro grupo, os restantes reféns poderiam começar a ser libertados gradualmente.

"As forças israelitas serão posicionadas ao longo da fronteira com Gaza, permitindo a troca de prisioneiros e corpos, juntamente com o regresso de pessoas deslocadas para as suas residências", explicou o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, em conferência de imprensa.

Israel deveria entregar centenas de prisioneiros palestinianos em troca. Segundo a Associated Press, entre os libertados pelo Hamas na primeira fase devem ser libertadas cinco mulheres militares, e por cada uma delas devem ser libertados 50 prisioneiros palestinianos. 'Só' aqui, Telavive deveria libertar 250 pessoas, 30 das quais que Israel tinha condenado a prisão perpétua.

E depois?

Os detalhes da segunda e terceira fases do acordo seriam finalizados quando a primeira fase fosse implementada com sucesso, esperando-se um cessar-fogo permanente e a retirada total dos soldados israelitas da Faixa de Gaza.

"Esperemos que esta seja a última página na guerra", apontou o chefe do governo do Qatar. "Nunca abandonaremos o povo de Gaza", acrescentou o responsável.

Já minada antes da guerra por um bloqueio israelita imposto desde 2007, pela pobreza e pelo desemprego, a Faixa de Gaza emerge da guerra mergulhada no caos.

As Nações Unidas estimaram que a reconstrução do território, mais de metade do qual foi destruído, levaria até 15 anos e custaria mais de 50 mil milhões de euros. As infraestruturas, especialmente a rede de distribuição de água, foram fortemente danificadas. A fome, o frio e o desespero são a realidade nas instalações improvisadas onde a população se abriga em massa. A maioria das crianças está fora da escola há mais de um ano. Apenas alguns hospitais ainda funcionam parcialmente.

O Crescente Vermelho já começou a preparar camiões com ajuda humanitária para entrarem no domingo na Faixa de Gaza. De acordo com o primeiro-ministro do Qatar, vão entrar nesta zona 600 camiões de ajuda humanitária por dia.

A festa dos dois lados (com "ansiedade")

Após o anúncio, tanto no enclave como em Telavive se festejou a existência de um acordo. As imagens das celebrações podem ser vistas abaixo:

"Terror vai acabar". Os festejos após anúncio de cessar-fogo em Gaza

Veja as imagens na fotogaleria abaixo.

Notícias ao Minuto com Lusa | 20:23 - 15/01/2025

Em Deir el-Balah, na Faixa de Gaza, Mohammed al-Nabahin, de 13 anos, contou à Al Jazeera como estava "contente", e acrescentou: "Queremos ver a cidade de Gaza. Temos saudades dela. É verdade que muitas pessoas de Gaza não têm casas para onde regressar, mas é bom estar no nosso bairro, perto da nossa gente e dos nossos vizinhos. Mesmo com o cessar-fogo, continuamos a sentir a falta dos nossos familiares e entes queridos que foram martirizados".

Já as famílias dos reféns do Hamas na Faixa de Gaza acolheram com "enorme alegria e alívio" o acordo de cessar-fogo no enclave.

"É um importante passo em frente que nos aproxima do regresso de todos os reféns: os vivos, para reabilitação e os mortos, para um enterro adequado. Mas acompanha-nos uma profunda ansiedade e preocupação pela possibilidade de o acordo não ser cumprido na totalidade, deixando alguns reféns para trás", afirmou o Fórum das Famílias de Reféns num comunicado.

Já Saleh, de 27 anos, falou "numa guerra brutal". "Todas as cenas que suportámos ao longo de 467 dias nunca serão apagadas da nossa memória. Mas os sentimentos de alegria que sentimos hoje com o fim da guerra fizeram-nos esquecer alguma da tristeza... Esperamos que, depois do fim da guerra, possamos regressar às nossas casas no Norte", frisou.

E o resto do mundo? Como reagiu?

Por cá, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, garantiu o esforço de Portugal "para fazer deste acordo uma realidade e estabilizar a situação na Faixa de Gaza e na região". A Presidência sublinhou ainda que "esta decisão abre a porta ao regresso dos reféns na posse do Hamas desde o fatídico ataque de 7 de outubro de 2023, assim como ao fim do sofrimento imenso da população palestiniana na Faixa de Gaza".

Já o primeiro-ministro, Luís Montenegro, saudou "o há muito aguardado anúncio de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, incluindo a libertação dos reféns, a retirada das forças israelitas e o acesso de ajuda humanitária a Gaza". "Um passo necessário rumo a uma paz duradoura".

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, falou numa "notícia há muito esperada pela população israelita e palestiniana", enquanto o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, considerou o cessar-fogo crucial para "uma paz justa" no Médio Oriente e disse ver "com esperança" o acordo nesse sentido entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também reagiu e pediu paz e respeito pela vida.

Também os Estados Unidos reagiram, com o presidente cessante, Joe Biden a dizer que via este acordo como "uma grande oportunidade" para que o próximo presidente, Donald Trump, possa dar um "futuro melhor ao Médio Oriente".

"Espero que a aproveitem. Tivemos muitos dias difíceis desde que o Hamas começou esta guerra. Não desistimos e agora, depois de mais de 400 dias de combates, chegou o dia do sucesso", afirmou Joe Biden.

Já Trump, presidente-eleito que toma posse já na próxima segunda-feira, recorreu à sua rede social para assumir a responsabilidade por esta vitória. "Este acordo épico só foi possível graças à nossa vitória histórica [nas eleições presidenciais norte-americanas] em novembro, porque mostrou ao mundo inteiro que a minha administração iria procurar a paz e negociar acordos para garantir a segurança de todos os americanos, e dos nossos aliados", escreveu na Truth Social.

[Notícia atualizada às 9h26]

Leia Também: Acordo de cessar-fogo leva 42 dias de paz a Gaza após 15 meses de guerra

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