"Esta ameaça é especialmente grave num contexto como o atual, nesta semana que começamos, em que estamos a ver, por exemplo, como a 'tecnocasta' (...) de Silicon Valley tenta usar o seu poder omnímodo [ilimitado] sobre as redes sociais para controlar o debate público e, portanto, a ação governamental, nada mais nada menos, do que de todo o Ocidente. E, perante isto, temos de rebelar-nos e procurar alternativas", afirmou o líder do Governo espanhol.
Depois de sublinhar que "a democracia não é um euro, um voto; não é um tweet, um voto; é uma pessoa, um voto", Sánchez considerou que, "portanto, a Europa deve fazer frente a esta ameaça e defender a democracia".
O primeiro-ministro de Espanha falava numa conferência em Madrid dedicada à Inteligência Artificial, no dia da tomada de posse do novo Governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, a que nunca se referiu de forma concreta.
Para Sánchez, a forma de a Europa defender a democracia e enfrentar a ameaça da chamada elite das empresas tecnológicas, a "'tecnocasta'", é tendo "uma visão do tipo de Inteligência Artificial" que quer ter e do papel que lhe quer dar.
"As tecnologias não geram mais prosperidade por si só, na realidade, tendem a reforçar o 'status quo', a dar mais poder aos poderosos e a fazer mais ricos os ricos", sublinhou.
Em 08 de janeiro, Sánchez tinha já acusado o empresário e dono da rede social X Elon Musk, próximo de Trump e que vai chefiar na nova administração norte-americana um novo departamento de "eficiência governamental", de atacar as instituições europeias e incitar ao ódio, apelando na mesma ocasião à defesa das democracias através do combate às 'fake news' e da memória do fascismo.
Sánchez falava nesse dia na primeira de uma centena de iniciativas com que o Governo espanhol pretende, ao longo de 2025, celebrar os 50 anos da "Espanha em Liberdade", usando como pretexto a morte do general e ditador Francisco Franco, em novembro de 1975.
"O fascismo que quisemos deixar atrás é já a terceira força política na Europa", afirmou, referindo ainda "a internacional de ultra direita liderada pelo homem mais rico do mundo [Elon Musk]", que está "a atacar abertamente as instituições" europeias democráticas, "a incitar ao ódio" e a apelar ao apoio "aos herdeiros do nazismo" nas próximas eleições alemãs, agendadas para fevereiro.
"A liberdade nunca se conquista de forma permanente", sublinhou Pedro Sánchez, que lembrou que foi isso precisamente que aconteceu há quase um século em vários países europeus, incluindo em Espanha, que eram democracias e passaram a ser ditaduras.
O primeiro-ministro defendeu ser por isso necessário "fortalecer a democracia" em Espanha e na Europa através do avanço em mais direitos, com o combate às 'fake news', que considerou "a principal arma dos inimigos da democracia", e "recordando a história".
"Esquecer os erros do passado é o primeiro passo para se repetirem", defendeu.
Leia Também: Espanha lança modelo de linguagem de Inteligência Artificial em espanhol