"Não podemos ter uma ordem mundial em que os países, se forem suficientemente grandes, (...) podem servir-se uns dos outros como quiserem", declarou Lars Lokke Rasmussen aos jornalistas no dia seguinte à tomada de posse de Donald Trump em Washington.
O presidente norte-americano indicou no início de janeiro a pretensão de colocar sob controlo dos Estados Unidos a Gronelândia e o Canal do Panamá, não descartando uma intervenção militar.
No seu discurso de investidura, na segunda-feira no Capitólio, em Washington, o político republicano não mencionou o território dinamarquês, mas disse mais tarde aos jornalistas que Copenhaga acabaria por ceder nesta questão.
O chefe da diplomacia dinamarquesa referiu estar satisfeito por Trump não ter apontado a Gronelândia como prioridade no seu discurso, mas lembrou que a retórica não desapareceu.
"Isto não me faz dizer que não há mais nenhuma crise, porque ele disse outras coisas sobre a expansão do território americano", advertiu Lokke Rasmussen.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, comentou numa publicação na rede social Instagram, na segunda-feira, que a Europa terá de "navegar numa nova realidade".
Ao recordar o direito à autodeterminação do povo da Gronelândia, também destacou a necessidade de a Dinamarca manter a sua aliança com os Estados Unidos, descrita como a mais importante do país desde a Segunda Guerra Mundial.
Os líderes dos principais partidos dinamarqueses foram hoje novamente chamados pela chefe do Governo para serem informados sobre a situação.
"Temos de reconhecer que os próximos quatro anos serão difíceis", observou Pia Olsen Dyhr, líder do Esquerda Verde, aos jornalistas após o encontro.
O chefe do executivo da Gronelândia, Mute Egede, tem sublinhado repetidamente que o território não é contra laços mais estreitos com Washington, mas não está à venda.
Além da sua localização estratégica, a Gronelândia, que procura a independência da Dinamarca, possui vastas reservas minerais e petrolíferas inexploradas.
Donald Trump disse pela primeira vez que queria comprar a Gronelândia em 2019, durante o seu primeiro mandato na Casa Branca, uma oferta que tanto o território autónomo como a Dinamarca rejeitaram.
Esta ilha ártica com dois milhões de quilómetros quadrados (80% dos quais cobertos de gelo) conta com uma população de apenas 56 mil habitantes.
Desde 2009, a Gronelândia tem um novo estatuto que reconhece o direito à autodeterminação.
Os Estados Unidos mantêm uma base militar no norte da Gronelândia ao abrigo de um amplo acordo de defesa assinado em 1951 entre Copenhaga e Washington.
Na cerimónia de posse, o novo presidente norte-americano prometeu assumir o controlo do Canal do Panamá, rebatizar o Golfo do México, expulsar "milhões e milhões" de imigrantes ilegais, bem como enviar o Exército para a fronteira mexicana e reforçar a tributação dos países estrangeiros, confirmando intenções já expressadas para o seu segundo mandato.
O primeiro mandato de Donald Trump (2017-2021) foi uma sucessão de crises políticas internas e confrontos diplomáticos e, em relação aos próximos quatro anos na Casa Branca, ameaçou que pretende liderar um governo que "expandirá o território" dos Estados Unidos.
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