"O Reino Unido está a considerar ativamente os próximos passos com os seus parceiros internacionais, incluindo a possibilidade de uma revisão de toda a ajuda britânica ao Ruanda", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros num comunicado citado pela agência de notícias Associated Press (AP).
Londres, acrescenta-se no texto, condena "uma violação inaceitável da soberania da RDCongo e da Carta das Nações Unidas, que representa um risco fundamental para a estabilidade regional", e apela à "retirada imediata de todas as RDF [forças armadas ruandesas] do território congolês".
A ameaça do Reino Unido surge depois de uma conversa entre o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Lammy, e o presidente do Ruanda, Paul Kagame, esta semana, na qual o chefe da diplomacia britânica alertou que "um ataque a Goma provocaria uma resposta forte da comunidade internacional" e lamentou que "a situação humanitária, que já era desastrosa antes da última ofensiva do M23 e da RDF, é agora crítica".
No mesmo dia em que o Reino Unido ameaçou fechar a ajuda financeira, o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas disse que a ONU estava "muito preocupada com a situação volátil" no Kivu do Sul, no leste da RDCongo, país que faz fronteira, a sul, com Angola.
A ONU está "muito preocupada com a situação volátil" no Kivu do Sul, e em particular com as informações "credíveis" sobre o avanço do grupo armado M23 em direção a Bukavu, afirmou o porta-voz do secretário-geral da ONU, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
"Estamos muito preocupados com a situação no Kivu Sul, que continua muito volátil, com relatos credíveis do rápido avanço do M23", disse Stéphane Dujarric, referindo-se também a informações de "movimentos das forças de defesa ruandesas através da fronteira nessa direção".
Durante a manhã de quarta-feira, o M23 apoderou-se das aldeias de Kiniezire e Mukwidja, situadas no território de Kalehe, na província de Kivu Sul, vizinha da província de Kivu Norte, da qual Goma é a capital.
Estas duas províncias, ricas em recursos naturais, estão envolvidas há mais de 30 anos num conflito que envolve uma multiplicidade de grupos armados, alguns dos quais apoiados por países vizinhos como o Ruanda, o Burundi e o Uganda.
No Kivu Sul, as forças armadas estabeleceram a sua principal linha de defesa na cidade de Kavumu, que possui um aeródromo.
A guerra opõe o movimento rebelde M23, apoiado pelo Ruanda, ao exército governamental. Os rebeldes estão a ganhar terreno no leste da RDCongo, onde se registaram numerosos surtos de doenças contagiosas e uma enorme escassez de ajuda por parte da comunidade humanitária, que considera a situação muito difícil.
O M23 tomou o controlo de uma grande parte de Goma, capital da província do Kivu Norte, no início da semana, e está a avançar para o Kivu Sul, tendo os seus líderes proclamado hoje ser sua intenção de continuar a avançar até Kinshasa.
"Estamos em Goma para ficar", disse o chefe da plataforma político-militar a que pertence o M23, Corneille Nangaa, numa conferência de imprensa em Goma, hoje, na qual garantiu: "vamos continuar a marcha de libertação até Kinshasa".
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