O presidente da Câmara, Jean Massillon, atribuiu o ataque à coligação de gangs Viv Ansanm, com os homens armados a irem de casa em casa e a abrirem fogo indiscriminadamente.
"Neste momento, os gangues cercaram a área", disse Massillon, enquanto pedia reforços.
Entre os mortos contam-se pastores, professores e crianças, embora se preveja que o número seja mais elevado porque as autoridades não conseguiram chegar a certas zonas do bairro, onde vivem muitos políticos e empresários.
Muitas das vítimas são pessoas da classe trabalhadora que cultivam na periferia do bairro, no sopé de uma cadeia de montanhas.
Os gangues já controlam 85% de Porto Príncipe e o secretário-geral das Nações Unidas avisou no mês passado que poderiam invadir a capital.
O assalto a Kenscoff ocorreu dias depois de o governo e a polícia terem alertado para a iminência de ataques na capital, mas os avisos não diziam onde poderiam ocorrer.
Jean Bertho Valmo, um agricultor de 45 anos que fugiu de Kenscoff, disse à AP que 12 membros de uma família estavam entre os mortos.
Valmo e a sua família procuraram abrigo no pátio do gabinete do presidente da Câmara, juntamente com dezenas de outras pessoas.
"Não há água nem comida suficiente para todos", disse, e lamentou a perda das suas colheitas, incluindo couves, cenouras e brócolos.
"Investi tudo o que tinha nelas", disse Valmo. "A polícia e o governo precisam de pôr fim a isto."
O ataque a Kenscoff, que começou a 27 de janeiro, deixou mais de 1.660 pessoas sem abrigo, segundo a Organização Internacional para as Migrações.
No total, a violência de gangues deixou mais de 1 milhão de pessoas sem teto no Haiti nos últimos anos.
Na sexta-feira, um sindicato da polícia disse que o ataque a Kenscoff "poderia ter sido evitado se a polícia tivesse bom equipamento", incluindo um helicóptero e um veículo todo-o-terreno, bem como fundos para recolher informações.
"Apesar das más condições, os nossos polícias estão a fazer sacrifícios incansáveis, mas não podemos tolerar a negligência das autoridades sobre o que deve ser feito para proteger suas vidas e a segurança da população", disse o sindicato, SPNH-17, num comunicado.
Sob a pressão de ataques concertados de bandos, o antigo primeiro-ministro Ariel Henry demitiu-se em março de 2024, dando lugar a um conselho presidencial de transição que já tinha demitido um primeiro-ministro em novembro.
Apesar de registar "progressos na frente política", a representante especial da ONU no país, Maria Isabel Salvador, lamentou em janeiro a "fragmentação" deste conselho, que "complica o processo".
"Acusações graves de corrupção contra três membros do Conselho aumentaram as tensões e puseram em causa a legitimidade das suas ações", observou.
Dirigindo-se aos membros do Conselho de Segurança, a comissária sublinhou igualmente a situação humanitária, que está a atingir "níveis alarmantes".
"Mais de 6 milhões de pessoas - quase metade da população - precisam de ajuda humanitária", mais de um milhão estão deslocadas e cerca de 2 milhões sofrem de insegurança alimentar grave, incluindo 6.000 pessoas em estado de fome, sublinhou, acrescentando que a ONU lançou um apelo para doações de 908 milhões de dólares para 2025 para ajudar 3,9 milhões de pessoas.
Leia Também: ONU alerta para risco de gangues tomarem conta de toda a capital do Haiti