"É muito difícil expressar-me sobre esta questão tão delicada", admitiu Filippo Grandi, em Bruxelas, citando pela agência francesa de notícias AFP.
Para o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, a situação atual "não é clara" após as "declarações extraordinárias" feitas pelo Presidente norte-americano na terça-feira.
Donald Trump disse que quer assumir o controlo da Faixa de Gaza, devastada pela guerra, e repetiu que os residentes de Gaza deveriam ir viver para a Jordânia ou para o Egito, apesar da oposição destes países e dos próprios palestinianos.
"É algo muito surpreendente, mas temos de ver concretamente o que isto significa", afirmou Filippo Grandi.
Sobre o anúncio feito na segunda-feira pelo conselheiro presidencial Elon Musk do fim abrupto da ajuda externa norte-americana, que vai afetar várias organizações não-governamentais, o alto-comissário voltou a apelar à cautela.
"Está tudo muito fluido agora, o que é um problema, porque somos uma organização que não pode esperar muito tempo", devido à importância crítica do financiamento dos EUA, admitiu, lembrando que a ajuda norte-americana representa atualmente "entre 35 e 40%" das contribuições para o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
O responsável das Nações Unidas considerou "radical" a abordagem de Elon Musk, o braço direito de Donald Trump responsável por uma diminuição dos gastos do governo federal, mas disse que "já estava a dialogar" com as autoridades norte-americanas sobre o processo de "renegociação da ajuda".
O diálogo não está, no entanto, a acontecer com o Elon Musk, já que Filippo Grandi não relatou qualquer interação direta com o milionário doo da rede social X, sublinhando que o interlocutor do ACNUR "continua a ser o Departamento de Estado".
A administração norte-americana anunciou no domingo que tinha afastado dois chefes de segurança da USAID, agência humanitária dos EUA que financia desenvolvimento internacional, depois de estes se recusarem a entregar material confidencial ao Departamento de Eficiência Governamental, conhecido como DOGE, dirigido por Elon Musk.
Trump explicou a decisão afirmando que a agência é dirigida por "extremistas loucos", que devem ser expulsos, e garantiu que as decisões de Musk são sempre concertadas com a Casa Branca.
Elon Musk anunciou o encerramento da USAID e os funcionários receberam instruções para ficar fora das instalações da sede em Washington, com 600 a denunciarem ter sido bloqueados do sistema informático.
Musk, Trump e alguns congressistas republicanos têm criticado a USAID - que supervisiona programas humanitários, de desenvolvimento e de segurança em cerca de 120 países - em termos cada vez mais duros, acusando-a de promover causas progressistas.
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