"Qualquer que seja o acordo, os europeus e ucranianos são os que irão implementá-lo, pelo que não é possível chegar a um acordo sem europeus ou ucranianos. A implementação é importante", afirmou a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas, em entrevista à Lusa e outras agências europeias em Bruxelas no âmbito do projeto Redação Europeia (European Newsroom).
Após o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter levantado a possibilidade de a Ucrânia se tornar russa um dia, a responsável apontou: "Há todo o tipo de declarações, claro, que surgem a toda a hora e nós estamos a lê-las, a ouvi-las, mas não estamos a reagir sempre que há uma declaração".
"É mais ou menos o que os Estados Unidos também estão a fazer quando se trata da Ucrânia. A Ucrânia é um país soberano com a sua integridade territorial e, de acordo com o direito internacional, é sempre necessário defendê-la", realçou.
Um dia após se ter encontrado na Europa com o vice-presidente dos Estados Unidos, J. D. Vance, Kaja Kallas indicou ter debatido com o representante de Washington a questão da "Ucrânia e a abordagem norte-americana a esta guerra".
"Quanto aos planos falados, os americanos também se interrogam sobre a nossa posição relativamente a estas questões e aí temos a oportunidade de exprimir realmente a nossa opinião sobre o resultado e também sobre as armadilhas que a Rússia está a colocar e também de sublinhar que a Rússia, neste momento, não quer a paz", referiu.
"O nosso ponto forte no que respeita à Europa é o facto de sermos previsíveis, somos o parceiro previsível e fiável", salientou a Alta Representante da UE.
Nessa reunião com J. D. Vance -- que aconteceu em Paris à margem de uma cimeira mundial sobre Inteligência Artificial --, a chefe da diplomacia comunitária disse ter abordado "questões relacionadas com a defesa, mas também com a Ucrânia e os seus planos, sublinhando que a Europa tem de estar à volta da mesa para discutir porque todos estes resultados irão influenciar muito o que acontece na Europa".
"Também vemos algumas coisas de forma diferente (...) do que as pessoas que estão mais distantes", frisou.
Já à margem da Conferência de Segurança de Munique, que decorre entre sexta-feira e domingo próximos, Kaja Kallas tem encontros bilaterais com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, bem como com o representante especial para a Ucrânia e com o conselheiro de segurança nacional.
No início desta semana, Donald Trump levantou a possibilidade de a Ucrânia se tornar "russa um dia", repetindo que quer um acordo com a Ucrânia para ter acesso aos depósitos de terras raras do país como condição para continuar o apoio de Washington a Kiev.
A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.
Os aliados de Kiev também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.
O conflito de quase três anos provocou a destruição de importantes infraestruturas em várias áreas na Ucrânia, bem como um número por determinar de vítimas civis e militares
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