"Deixem-me ser muito clara: uma Ucrânia falhada enfraqueceria a Europa, mas também os Estados Unidos. Intensificaria os desafios no Indo-Pacífico e ameaçaria os nossos interesses comuns", advertiu a presidente do executivo comunitário, no discurso proferido na Conferência de Segurança de Munique, marcada pelo anúncio de Trump sobre o início de negociações de paz na Ucrânia com o Presidente russo, Vladimir Putin.
Neste contexto, Von der Leyen insistiu no seu aviso a Washington de que os líderes autoritários do mundo estão a observar atentamente "se há impunidade se invadirem o país vizinho e violarem as fronteiras internacionais", ou se existem verdadeiras medidas de dissuasão.
"Eles observam-nos e perguntam-se que ações decidimos tomar, e é por isso que é tão importante que façamos as coisas bem", defendeu.
Neste ponto, estendeu a mão a Trump para "trabalharem juntos" para alcançar uma paz na Ucrânia "a partir de uma posição de força".
"A Europa quer a paz a partir de uma posição de força, e o Presidente Trump deixou claro que os Estados Unidos estão firmemente empenhados na paz a partir de uma posição de força. Por isso, acredito que, trabalhando juntos, podemos alcançar essa paz justa e duradoura", afirmou.
A política conservadora alemã apelou para uma paz "justa e duradoura" nos termos definidos pela Ucrânia, que garanta que não se repetem "os horrores" dos últimos anos.
Por outro lado, sublinhou que cabe a Putin demonstrar o seu verdadeiro interesse em não prolongar a guerra e em alterar os seus planos de "destruir" a Ucrânia.
Von der Leyen referiu que a União Europeia (UE) tem pontos em comum com os Estados Unidos no que respeita à saída para o conflito, incluindo a necessidade de fornecer "garantias de segurança sólidas".
Sem entrar em mais pormenores sobre esta questão, afirmou que a Europa deve "agir" de acordo com as suas palavras "francas" e aumentar as despesas com a Defesa para "fazer mais" em termos de segurança europeia.
"Que não reste qualquer dúvida: penso que, no que se refere à segurança europeia, a Europa tem de fazer mais, a Europa tem de contribuir mais. E para o conseguir, precisamos de um aumento da despesa europeia com a Defesa", sustentou.
A par desse argumento, comprometeu-se a "intensificar" o trabalho para "acelerar" o processo de adesão da Ucrânia ao bloco comunitário europeu, algo que, em última análise, depende dos 27 Estados-membros.
"Já fizemos progressos significativos, mas agora é altura de mover montanhas", vincou.
A chefe do executivo europeu quis assim defender que, num momento de mudança na Ucrânia, a Europa se vai "adaptar", vai "dar um passo em frente" e vai "fazer a diferença de imediato".
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após o desmoronamento da União Soviética - e que tem vindo a afastar-se da esfera de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kyiv têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
As Forças Armadas ucranianas confrontaram-se, durante este último ano, com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram depois a concretizar-se.
As tropas russas, mais numerosas e mais bem equipadas, prosseguem o seu avanço na frente oriental, apesar da ofensiva ucraniana na Rússia, na região de Kursk, e da autorização dada à Ucrânia pelo então Presidente norte-americano, Joe Biden, no final do seu mandato, para utilizar mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos para atacar a Rússia.
As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território.
Trump e Putin conversaram esta semana por telefone sobre a Ucrânia e o lançamento de negociações de paz para pôr fim à guerra, sem ficar de imediato clara a inclusão de Kyiv nesse processo e em que termos.
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