Nas últimas semanas, centenas de milhares de pessoas saíram à rua para manifestar o seu apoio ao partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) nas eleições de 23 de fevereiro.
Com 21% nas últimas sondagens, poderá ficar em segundo lugar nas eleições legislativas, atrás da União Democrata-Cristã (CDU), embora as suas hipóteses de chegar ao poder sejam reduzidas devido à falta de aliados.
Com um emblema que é um grande chapéu de malha, muitas vezes tricotado à mão, o grupo de idosos não esperara pela reta final para se mobilizar. Há sete anos que aplicam à letra o seu slogan: "O facto de sermos velhos não significa que tenhamos de ficar calados".
Com sessenta, setenta e até noventa anos, estes ativistas, que cresceram nas décadas do pós-guerra, marcadas pela memória do Holocausto, sentem que têm um dever.
"Tive a sorte de viver em paz e democracia durante 58 anos" e "é isso que quero preservar para os meus três netos", diz Gabi Heller, que dirige um grupo em Nuremberga, uma grande cidade no sul da Baviera.
"É uma solução fácil culpar os fluxos migratórios por todos os males, mas é simplesmente um completo disparate", acrescenta, com uma bandeira da organização pendurada ao ombro.
Eva-Maria Singer aderiu ao movimento há três anos. "Éramos demasiado ingénuos", diz a senhora de 73 anos, que conheceu numa manifestação em Nuremberga.
"Pensámos que tínhamos erradicado a velha camarilha nazi e fascista. Mas não é verdade, está a crescer de novo", acrescenta.
O movimento foi lançado na Alemanha em 2018, seguindo o modelo de iniciativas semelhantes na Áustria.
Um ano antes, a AfD, fundado em 2013, tinha acabado de entrar no parlamento alemão.
Ao longo dos anos, o movimento cresceu e estruturou-se para incluir cerca de uma centena de secções locais em toda a Alemanha.
"No ano passado, organizámos ou participámos em mais de 80 manifestações", muitas das quais contra o antissemitismo, conta Maja, uma ativista de 72 anos, entrevistada em Berlim.
O seu empenhamento tem raízes muito pessoais: "a minha avó teve de deixar a Alemanha com o meu pai" porque era judia, diz.
Alguns dos seus netos têm origens do "Médio Oriente e eu não quero que eles tenham de sair da Alemanha - foi por isso que me juntei", confessa.
O primeiro congresso "Avós contra a extrema-direita" realizou-se este verão na Turíngia, no centro da Alemanha, uma região da antiga República Democrática Alemã onde a AfD ficou em primeiro lugar nas últimas eleições regionais e que tem muitos ativistas.
"Ficámos chocados com a forma como fomos tratados", diz Gabi Heller.
Em Nuremberga, "ainda não é assim, posso andar na rua com o cartaz do grupo sem ter medo", diz.
Para Nicole Büttner, uma "jovem mulher" de 46 anos que se manifestou ao lado deles em Berlim, no início de fevereiro, o empenho destes veteranos é uma inspiração: "são pessoas mais velhas, algumas das quais viveram provavelmente a guerra".
"Estão empenhados em lutar contra o racismo, a discriminação e a misantropia. É muito importante e muito encorajador", afirma.
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