Os cartazes apenas exibem os rostos dos sobreviventes, que olham em frente, sem sorrisos. Ao lado de cada imagem, uma legenda descreve a história daquela pessoa: presos em guetos, deportados para campos de concentração, colocados em trabalhos forçados, perderam pais e irmãos.
Instalada junto à Igreja de Nossa Senhora ('Frauenkirchen'), destruída nos bombardeamentos dos Aliados sobre a capital da Saxónia, há precisamente 80 anos, a exposição faz parte do projeto 'Gegen das Vergessen' (Contra o Esquecimento), criado em 2014 pelo cineasta e fotógrafo italo-alemão Luigi Toscano, que já percorreu o mundo e fotografou mais de 400 sobreviventes da 'Shoah' (Holocausto).
Em Dresden, a exposição foi inaugurada no dia 27 de janeiro, quando se assinalaram 80 anos da libertação do campo de concentração de Auschwitz, e está patente em plena campanha eleitoral para as eleições legislativas do próximo domingo.
"A minha exposição pretende enviar uma mensagem poderosa contra o esquecimento e manter vivas as memórias dos desafios do nosso passado - especialmente agora, em tempos em que mais do que nunca devemos reconhecer a importância da comunidade e da memória e estarmos prontos para assumir a nossa atitude democrática", justifica o autor, artista pela paz da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), sobre a exposição em Dresden.
Toscano resume o objetivo da exposição com a citação de uma das sobreviventes, Susan Cernyak-Spatz: "Se nos esquecermos do passado, estamos condenados a repeti-lo".
Numa mensagem, o autarca da cidade, Dirk Hilbert, acentua a necessidade de enquadrar a História: "A lembrança ativa do sofrimento da própria cidade durante a guerra deve sempre ocorrer no contexto dos crimes nacional-socialistas".
As fotografias de Luigi Toscano, refere, recordam "as terríveis experiências dos sobreviventes da 'Shoah'", ao mesmo tempo que "transmitem uma força impressionante e vontade de viver".
"Este é um legado poderoso para as gerações futuras, aqui em Dresden e muito além dos limites da nossa cidade", considera o autarca, do partido liberal FDP.
As eleições alemãs estão a ser marcadas pela subida da extrema-direita: o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) está em segundo lugar nas sondagens, com cerca de 20% das intenções de voto, o dobro da votação de 2021.
A AfD tem gerado polémica, ao questionar a cultura do arrependimento e da memória, um dos pilares do pós-guerra num país até agora assombrado pela culpa dos horrores do Terceiro Reich.
Dirigentes da AfD desvalorizaram o nazismo e os crimes de guerra cometidos durante esse período, e Björn Hocke, líder do partido na Turíngia (onde a AfD é a maior força política), foi condenado por usar antigos lemas nazis.
A co-líder e candidata a chanceler da AfD, Alice Weidel, também revisitou recentemente a História, sugerindo que "Hitler era comunista".
"Ele considerava-se um socialista", afirmou Weidel, durante um debate na rede social X com o empresário norte-americano Elon Musk, que apoia a extrema-direita alemã nas eleições, suscitando críticas por parte de historiadores e adversários.
A Alemanha realiza no domingo eleições legislativas antecipadas - estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta pelo SPD (social-democrata), pelos liberais do FDP e pelos Verdes.
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