Kassem Taher Saleh, iraquiano curdo, chegou ainda criança à Alemanha, com os pais, em 2003. A família ficou instalada num campo de refugiados em Plauen, bastião do partido de extrema-direita O Terceiro Caminho.
"Cresci com ataques racistas, os nazis atacavam-me no campo de futebol, nos clubes, na estação de elétrico, mas eu não quis dar-lhes uma voz", relatou à agência Lusa o deputado dos Verdes, 31 anos, durante uma ação de campanha em Dresden, leste da Alemanha.
"Quis dar voz às pessoas que apoiam a comunidade migrante. Essas pessoas precisam de uma voz maior no parlamento e nas ruas e esse é o meu foco", afirmou Kassem Saleh.
Da vida no campo de refugiados -- onde os pais ainda vivem -, recorda as condições duras: "A polícia vinha à noite com cães para deportar migrantes e refugiados. Eu tive de assumir a responsabilidade pelos meus pais e pela minha comunidade".
Eleito pelo estado da Saxónia para o Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão), destaca do seu primeiro mandato o trabalho em prol de associações humanitárias e o apoio a famílias de refugiados, alguns a enfrentar processos de deportação.
A poucos dias das eleições legislativas antecipadas, marcadas pela subida da extrema-direita - a Alternativa para a Alemanha (AfD) está em segundo lugar nas sondagens -, o deputado iraquiano-alemão pede uma "representação forte" dos Verdes no parlamento, de forma a "fazer parte da negociação" para uma coligação de governo.
A União Democrata-Cristã (CDU) lidera as sondagens, com cerca de 30% das intenções de voto, seguida da AfD -- com que os restantes partidos recusam fazer acordos, impondo um chamado 'cordão sanitário' contra a extrema-direita.
O Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler cessante, Olaf Scholz, e os Verdes, disputam o terceiro lugar, com as sondagens a atribuir perto de 15% a cada um, com uma ligeira vantagem para os sociais-democratas.
No cenário provável de a CDU não ter maioria suficiente para governar sozinha, SPD e Verdes podem ser parceiros de coligação.
"Precisamos de uma economia mais forte na Alemanha, de resolver os problemas da habitação, de combater as mudanças climáticas de forma urgente e de uma sociedade diversificada", defendeu o deputado ecologista.
Sobre o facto de o debate político estar a ser dominado pela questão da imigração, Kassem Saleh lamentou a "dureza da linguagem".
"Temos de acabar com isto e a nossa resposta é investir mais em integração - precisamos de cursos de língua [para os migrantes] desde o primeiro dia -- e de investir na segurança, quer na polícia quer na segurança digital", afirmou.
Kassem Saleh distribuía hoje 'kebabs' gratuitos aos estudantes, junto à Universidade Técnica de Dresden, uma forma de contactar diretamente com os jovens, preocupados com o aumento do custo de vida e com os elevados preços da habitação.
A sua principal mensagem para esta geração? "Acreditem na democracia e invistam nela. A democracia precisa de todos nós, neste momento", apelou.
"É preciso comunicar mais e melhor com os jovens, quer nas redes sociais quer através de ações diretas, e responder às suas preocupações, lutando pelo nosso futuro", sustentou.
A Alemanha realiza no domingo eleições legislativas antecipadas - estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta pelo SPD (social-democrata), pelos liberais do FDP e pelos Verdes.
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