Israel proibiu a entrada de toda a ajuda humanitária em Gaza após o fim da primeira fase do acordo de cessar-fogo e a recusa por parte do movimento islamita palestiniano Hamas de uma extensão apoiada pelos Estados Unidos, anunciou o gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, de acordo com a CNN, este domingo.
"Com a conclusão da 1ª fase do acordo de reféns e à luz da recusa do Hamas em aceitar o 'esquema Witkoff' para a continuação das conversações, com o qual Israel concordou, o primeiro-ministro Netanyahu decidiu: a partir desta manhã, a entrada de todos os bens e fornecimentos na Faixa de Gaza será interrompida", pode ler-se no comunicado feito na rede social X.
O Hamas já respondeu à suspensão da entrada de ajuda em Gaza e acusa Israel de "crime de guerra", considerando que é uma "violação do acordo" de tréguas.
"A decisão de [primeiro-ministro israelita Benjamin] Netanyahu de suspender a ajuda humanitária é uma chantagem mesquinha, um crime de guerra e uma violação flagrante do acordo" de tréguas, disse o movimento islamita palestiniano, apelando aos "mediadores da comunidade internacional para que pressionem" Israel a recuar nesta decisão.
A primeira fase do cessar-fogo, ao abrigo do qual dezenas de reféns israelitas e centenas de prisioneiros e detidos palestinianos foram libertados desde meados de Janeiro, terminou no sábado.
O anúncio do primeiro-ministro ocorreu horas depois de o Governo israelita ter declarado um novo cessar-fogo unilateral durante os feriados muçulmanos do Ramadão e da Páscoa judaica, ou seja, até aproximadamente 20 de abril.
No entanto, esta prorrogação do cessar-fogo irá operar fora dos termos do cessar-fogo inicial negociado entre o Hamas e Israel e que entrou em vigor em 19 de janeiro, não incluindo a continuação dos procedimentos para a troca de reféns.
Netanyahu acusou o Hamas de ignorar uma proposta alternativa apresentada pelo enviado especial da Casa Branca para a região, Steve Witkoff.
O representante americano ofereceu a possibilidade de prolongar os termos da primeira fase do cessar-fogo original: continuar as trocas de reféns enquanto tenta desbloquear as negociações, atualmente paradas, para concordar com uma segunda fase que inclui a libertação de todos os reféns do sexo masculino, em troca da retirada das forças israelitas do enclave palestiniano e o início das discussões sobre o futuro político da Faixa de Gaza.
Israel indicou que não vai permitir um cessar-fogo sem a libertação dos seus reféns e deixou ainda um aviso ao Hamas.
"Israel não vai permitir um cessar-fogo sem a libertação dos nossos reféns. Se o Hamas persistir na sua recusa, haverão consequências adicionais", pode ler-se na rede social.
Israel will not allow a ceasefire without a release of our hostages. If Hamas persists in its refusal, there will be additional consequences.
— Prime Minister of Israel (@IsraeliPM) March 2, 2025
No sábado, o Hamas protestou contra os termos do enviado dos EUA, argumentando que não passavam de uma tática de abrandamento para manter a presença de Israel na Faixa de Gaza e de um "regresso às posições iniciais", disse o seu porta-voz Hazim Qasem.
O porta-voz apontou também que as negociações sobre a segunda fase estão completamente congeladas, em parte porque o Hamas não tem qualquer intenção de abdicar do seu controlo político ou de segurança no enclave palestiniano, como Israel exige.
O Hamas, por seu turno, alega que é Israel que está a obstruir o processo de diálogo, ao utilizar esta nova trégua unilateral como cobertura para a sua recusa em negociar a retirada das suas forças do enclave antes de quaisquer outras considerações, como denunciou hoje o seu alto funcionário Mahmud Mardawi.
"A única forma de alcançar a estabilidade na região e o regresso dos prisioneiros israelitas é concluir a implementação do acordo de cessar-fogo, começando pela implementação da segunda fase", afirmou, em declarações ao jornal Filastin, que é próximo do movimento islâmico palestiniano.
Mardawi considerou a trégua israelita durante o Ramadão como nada mais do que uma expressão da recusa de Netanyahu em continuar as negociações numa "manipulação contínua" que "não devolverá os prisioneiros às suas famílias, mas, pelo contrário, levará à continuação do seu sofrimento e colocará as suas vidas em risco, se não houver pressão sobre a ocupação para cumprir as suas obrigações".
Segundo avança a CNN, acredita-se que 24 reféns israelitas ainda estejam vivos em Gaza.
[Notícia atualizada às 09h11]
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