China com meta ambiciosa para PIB, mas apoio orçamental insuficiente

O objetivo de crescimento estipulado pelas autoridades chinesas para este ano, de "cerca de 5%", é ambicioso, mas o aumento do défice orçamental será insuficiente para evitar que a economia abrande, alertaram analistas.

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Lusa
05/03/2025 07:15 ‧ 05/03/2025 por Lusa

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"Os responsáveis políticos chineses mantiveram um objetivo ambicioso para o crescimento real do PIB [Produto Interno Bruto], mas são mais cautelosos nas suas previsões para o crescimento nominal e a inflação. E, embora tenham anunciado um aumento do apoio fiscal, o grau de flexibilização é mais moderado do que parece", escreveu Julian Evans-Pritchard, analista da consultora Capital Economics, num relatório.

 

O especialista disse estar cético quanto à possibilidade de as medidas anunciadas evitarem um abrandamento do crescimento em 2025, marcado por "ventos contrários no cenário internacional e pela ausência de uma mudança mais pronunciada nas despesas públicas para apoiar o consumo".

Depois de ter reservado uma percentagem recorde das despesas para o investimento em 2024, Pequim parece agora voltar-se mais para o consumo, "embora nada de extraordinário", com o equivalente a 41,3 mil milhões de dólares (38,5 mil milhões de euros) em obrigações para financiar o "plano de renovação" do Governo para os eletrodomésticos ou a eletrónica, notou o analista.

Hong Hao, da gestora de ativos chinesa Grow Investment Group, observou que o relatório oficial deste ano é o que mais vezes menciona a palavra 'consumo' numa década, mas Evans-Pritchard ressalvou que as autoridades "não estão a contar com um impulso considerável" sob a forma de reflexão (o estímulo artificial da economia pelo Estado, geralmente para ultrapassar uma recessão).

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, revelou hoje que o objetivo de crescimento económico para o atual ano fiscal é de "cerca de 5%", pelo terceiro ano consecutivo, e que o défice fiscal vai ser aumentado em um ponto percentual, para 4%, como parte dos esforços do Governo para relançar a recuperação.

Apesar do "maior aumento em décadas" no rácio entre o défice e o PIB, Evans-Pritchard estimou que, tendo em conta outros fatores, o aumento real da despesa será de cerca de 1,5%, inferior ao de ciclos de flexibilização anteriores, como 2015 (2%) e 2020 (3,6%).

Citada pela agência de notícias financeiras Bloomberg, Charu Chanana, da plataforma de negociação em bolsa Saxo Markets, disse que os objetivos revelados por Li "estão dentro das expectativas" e mostram que as autoridades ainda estão "a guardar munições para mais tarde", uma análise que mereceu a concordância de Lee Homin, do banco suíço Lombard Odier, que acredita que Pequim poderá considerar ajustar o objetivo do défice a meio do ano, quando se tornar claro o impacto das taxas alfandegárias impostas por Washington sobre bens oriundos da China.

As últimas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) apontam para um crescimento do PIB chinês de cerca de 4,5%, depois de ter crescido 5%, em 2024, impulsionado por um esforço extra das autoridades no final do ano.

No entanto, a Capital Economics duvida que a China tenha crescido 5% no ano passado, como indicam os números oficiais, e defende que essa taxa terá sido, de facto, de cerca de 4,4%.

Evans-Pritchard salientou que a meta para a inflação, que passou de 3%, no ano passado, para 2%, é a mais baixa desde 2003, e observou que "é pouco provável que o Banco Popular da China [banco central] faça tudo o que for necessário para trazer" o indicador de volta a esse nível: "Um objetivo mais baixo sugere alguma aceitação oficial do atual ambiente deflacionário".

O especialista também se referiu à promessa oficial de manter a taxa de câmbio da moeda chinesa, o yuan, "geralmente estável a um nível adaptável e equilibrado": "É uma linguagem repetitiva e não exclui uma nova depreciação em algum momento deste ano, especialmente se as taxas impostas pelos EUA continuarem a aumentar".

A fraca procura interna e internacional, associada a riscos de deflação, estímulos insuficientes, uma profunda crise imobiliária e a falta de confiança dos consumidores e do setor privado são algumas das causas apontadas pelos analistas para explicar o que está a acontecer na segunda maior economia do mundo.

A isto junta-se a intensificação da guerra comercial com os EUA após o regresso de Donald Trump à Casa Branca.

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