A presidência síria emitiu uma declaração assinada por ambas as partes, especificando que o acordo abrangia "a integração de todas as instituições civis e militares do nordeste da Síria na administração do Estado sírio, incluindo as passagens fronteiriças, o aeroporto e os campos de petróleo e gás".
O entendimento reconhece que a comunidade curda é parte integrante do Estado sírio e garante os seus direitos constitucionais, no pressuposto da integração das instituições civis e militares curdas na administração do país.
O texto garante ainda "os direitos de todos os sírios à representação e participação no processo político", bem como nas instituições estatais, "independentemente da sua origem religiosa e étnica", segundo o texto da Presidência.
Outro ponto acordado por Mazloum Abdi e pelo presidente de transição, Ahmed al-Charaa, implica "um cessar-fogo em todos os territórios sírios".
A região curda do país é atingida há três meses, desde a queda do regime de Bashar-al Assad, por uma ofensiva lançada por grupos armados apoiados pela Turquia para controlar o seu território.
O texto hoje divulgado prevê ainda o regresso às suas cidades e localidades de todos os sírios deslocados, que serão "protegidos pelo Estado", e apoio às novas autoridades na sua luta contra o anterior regime e "todas as ameaças à sua segurança e unidade".
As negociações para a integração da administração curdo-síria, que controla o norte e o nordeste do país, decorrem há várias semanas, com al-Charaa a procurar uma solução negociada com Abdi.
Um dos principais pontos de discórdia era a integração das FDS nas unidades do Ministério da Defesa, mas que o grupo armado dominado pelos curdos insistia em fazê-lo como um "bloco militar unido".
Outra divergência era o controlo dos campos petrolíferos no nordeste da Síria, onde se concentram a maior parte dos depósitos importantes do país, bem como as fronteiras e as prisões, embora estas últimas não sejam referidas no documento.
Milhares de combatentes do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), muitos deles estrangeiros, que foram derrotados em 2019 com apoio dos Estados Unidos, estão detidos em prisões em território curdo-sírio, bem como em campos onde se concentram mulheres e crianças das famílias dos terroristas.
A Síria vive um novo ciclo histórico após quase 14 anos de guerra civil, na sequência de uma operação militar relâmpago que depôs em 08 de dezembro de 2024 o regime de Bashar al-Assad, atualmente exilado na Rússia.
A ofensiva foi realizada por uma coligação de grupos armados rebeldes, liderada pela Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS), de al-Charaa.
O acordo entre as novas autoridades de Damasco e as FDS ocorre no período de violência mais grave do país desde a quede de Assad, entre as forças de segurança e elementos da minoria alauita no noroeste do país, alegadamente fiéis ao antigo regime.
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