"Desta vez é pior porque as pessoas já estão exaustas. São pessoas cuja saúde mental já estava degradada, e muitas delas ainda estavam perto de passarem fome", disse Sam Rose, numa videoconferência realizada a partir de Gaza.
Segundo o responsável da UNRWA, se o cessar-fogo não for restabelecido, "haverá ainda mais perdas de vidas, infraestruturas e um maior risco de doenças infecciosas e traumas entre os dois milhões de civis que vivem em Gaza, incluindo um milhão de crianças".
Rose admitiu que tinha previsto fazer a conferência de imprensa em Genebra na semana passada, com a intenção de explicar como a UNRWA conseguiu restaurar os cuidados médicos a 200 mil pessoas e a educação a 50 mil crianças, mas "todas as histórias positivas secaram".
O responsável da agência, que foi proibida de operar em território israelita, afirmou que ainda há hipóteses de regressar ao cessar-fogo e salientou a importância de retomar a libertação de reféns e a entrada de ajuda humanitária em Gaza, interrompida desde o início deste mês.
Na mesma conferência de imprensa, o porta-voz da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV), Tommaso della Longa, reiterou que o Crescente Vermelho Palestiniano continua a responder diariamente a centenas de chamadas de emergência sobre mortes e ferimentos nos ataques que recomeçaram esta semana.
"Os fornecimentos médicos essenciais estão a esgotar-se, e os corredores dos estabelecimentos de saúde estão cheios de pessoas em tratamento, juntamente com outras que tentam descobrir se os seus familiares sobreviveram", descreveu.
Della Longa avançou ainda que, devido à escassez de combustível em Gaza, só menos de metade das ambulâncias do Crescente Vermelho e outros veículos de emergência (23 em 53) continua operacional.
"Os nossos colegas no local também relataram que está a tornar-se cada vez mais difícil para eles e para outros civis deslocarem-se pela Faixa" de Gaza, sublinhou o porta-voz da FICV, acrescentando que a falta de água potável está a começar a atingir níveis alarmantes e a incidência de doenças está a aumentar, especialmente entre as crianças.
Depois de uma guerra que começou a 07 de outubro de 2023, na sequência de um ataque do grupo islamita palestiniano Hamas a território israelita, as partes conseguiram acordar num cessar-fogo, que entrou em vigor a 19 de janeiro.
A trégua previa que, numa primeira fase, fossem libertados reféns que o Hamas fez no seu ataque em 2023 em troca de presos palestinianos nas prisões israelitas.
A primeira fase terminou em 02 de março, mas as negociações para uma segunda etapa, que deveria levar ao fim permanente da guerra, entraram num impasse até que Israel, esta semana, voltou aos bombardeamentos, matando centenas de palestinianos.
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