Numa comunicação ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), a coordenadora para o Processo de Paz no Médio Oriente, Sigrid Kaag, entregou uma atualização trimestral sobre a implementação de uma resolução de 2016 que exigiu que Israel cessasse todas as atividades de colonato no "Território Palestino Ocupado" e pediu medidas imediatas para prevenir a violência contra civis.
Contrariamente ao determinado pela resolução, o relatório apresentado por Kaag - que abrange o período de 07 de dezembro de 2024 a 13 de março - indica que as atividades de colonato continuam a aumentar, com Israel a avançar ou aprovar aproximadamente 10.600 unidades habitacionais em colonatos na Cisjordânia, incluindo 4.920 em Jerusalém Oriental.
Foram ainda anunciadas licitações para aproximadamente 700 unidades na área do colonato de Efrat, perto de Belém.
"Demolições e apreensões de estruturas palestinianas aceleraram em toda a Cisjordânia ocupada", referiu, apontando "as licenças de construção emitidas por Israel, que são quase impossíveis de obter pelos palestinianos" e que "as autoridades israelitas demoliram, apreenderam, encerraram ou forçaram as pessoas a demolir 460 estruturas, deslocando 576 pessoas, incluindo 287 crianças e 149 mulheres", relatou Sigrid Kaag.
Nesse sentido, o povo palestiniano está "cada vez mais confinado em áreas cada vez menores e desconectadas, apresentando uma ameaça existencial à perspetiva de um Estado palestiniano contíguo, viável e independente", frisou.
A coordenadora da ONU reiterou que os colonatos não têm validade legal e violam o direito internacional.
Também sustentou que a demolição e apreensão de estruturas de propriedade palestiniana envolvem inúmeras violações de direitos humanos e levantam preocupações sobre o risco de transferência forçada.
Além da situação dos colonatos, Sigrid Kaag assinalou que a escalada da violência na Cisjordânia "é profundamente preocupante" pelo crescente número de mortos e danos nos campos de refugiados.
Kaag relatou ataques letais perpetrados por colonos israelitas contra palestinianos, incluindo com o "apoio das forças de segurança de Israel", embora frisando que também se registaram ataques de palestinianos contra israelitas.
"O uso contínuo de armamento pesado na Cisjordânia ocupada, incluindo em áreas residenciais, é extremamente preocupante. Também lembro que Israel, como potência ocupante, tem a responsabilidade de garantir que os civis sejam protegidos de todos os atos de violência", realçou, numa reunião em que Telavive estava presente.
Ao contrário da maioria dos Estados-membros do Conselho de Segurança, que condenou os colonatos israelitas e pediu o fim das atividades de anexação, a representante interina dos Estados Unidos na ONU, Dorothy Shea, considerou que a aprovação da resolução em 2016 "foi um erro" e que a discussão de hoje "é uma distração das ameaças reais à paz e segurança internacionais".
Na ocasião, a resolução que exigia o fim dos colonatos israelitas foi adotada com 14 votos a favor e com a abstenção dos Estados Unidos.
Dorothy Shea responsabilizou o grupo extremista Hamas pela atual guerra em Gaza e, no que se refere à Cisjordânia, afirmou que Washington apoia os esforços das Forças de Defesa de Israel e das Forças de Segurança da Autoridade da Palestina "para erradicar extremistas violentos".
"Os Estados Unidos apelam à ONU, e particularmente ao secretário-geral, António Guterres, para se juntarem a nós na pressão sobre o Hamas para acabar com o derramamento de sangue e depor as armas. Os apelos para que ambos os lados respeitem o cessar-fogo exibem uma falsa equivalência que é contraproducente", defendeu, frisando que "Israel tem o direito de se defender".
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