O Partido Republicano do Povo (CHP), principal força de oposição, convocou uma manifestação pela terceira noite consecutiva em Istambul, em protesto contra a detenção do autarca daquela cidade, Ekrem Imamoglu, acusado de corrupção e terrorismo.
No protesto realizado na quinta-feira, a polícia turca usou balas de borracha e gás lacrimogéneo, quando procurava bloquear um grupo de jovens manifestantes que seguiam em direção à emblemática Praça Taksim.
A polícia também utilizou canhões de água e balas de borracha em Ancara, segundo a AFP.
As forças de segurança detiverem 53 pessoas e 16 polícias ficaram feridos nos confrontos com os manifestantes.
Imamoglu, 53 anos, foi detido na quarta-feira por alegadas suspeitas de corrupção e de ligações terroristas, juntamente com dezenas de elementos do seu partido.
A oposição considerou tratar-se de uma ação política antes das primárias do partido, marcadas para domingo, que iriam consagrar o autarca como concorrente contra o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, nas próximas eleições.
No terceiro dia de protestos contra a detenção do seu rival político, Erdogan acusou hoje a oposição de estar a tentar provocar o caos no país.
"A Turquia não é um país que está na rua e não se vai render ao terrorismo de rua", afirmou Erdogan, após a convocação de uma nova manifestação para hoje.
O líder do CHP, Ozgur Ozel, apelou aos turcos para saírem de novo à rua hoje às 20:30 locais (17:30 em Lisboa), após a refeição de quebra do jejum do Ramadão, apesar dos avisos das autoridades.
"A partir de agora, estamos nas ruas e nas praças", avisou Ozel na quinta-feira à noite, à porta da Câmara Municipal de Istambul, onde milhares de manifestantes se reuniram pela segunda noite consecutiva.
O Presidente turco descreveu o apelo de Ozel como "uma grave irresponsabilidade" por tentar levar para as ruas um caso que disse ser da área da justiça.
Desde quarta-feira, realizaram-se manifestações em pelo menos 32 das 81 províncias da Turquia, segundo uma contagem da AFP.
O ministro da Justiça, Yilmaz Tunç, considerou "ilegais e inaceitáveis" as repetidas convocatórias da oposição para as manifestações.
As autoridades também proibiram todas as concentrações até terça-feira à noite em Ancara e Izmir (oeste), a terceira maior cidade do país, favorável à oposição.
A atual vaga de protestos não tem precedentes desde as grandes manifestações que tiveram início na Praça Taksim em 2013.
Imamoglu, cujo interrogatório pelos investigadores começou hoje, segundo a emissora estatal TRT, deveria ser anunciado como candidato do CHP às próximas eleições presidenciais no domingo.
Mas a universidade estatal de Istambul cancelou o diploma de Imamoglu na terça-feira à noite, criando-lhe mais um obstáculo, uma vez que a Constituição exige que qualquer candidato à presidência tenha um título de ensino superior.
Imamoglu foi reeleito em 2024 depois de conquistar Istambul em 2019 ao Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco), a formação islâmica conservadora no poder liderada por Erdogan.
"O presidente da câmara não é corrupto, nem ladrão, nem terrorista", disse o líder do CHP à multidão na quinta-feira à noite, prometendo "não desistir da luta até que Imamoglu e outros presidentes de câmara presos sejam libertados".
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