Vários altos responsáveis dos Estados Unidos visitam, durante esta semana, a Gronelândia, incluindo o vice-presidente do país, JD Vance, e a mulher, Usha Vance. Para o primeiro-ministro cessante da região autónoma dinamarquesa, Mute Edge, trata-se de "interferência externa", enquanto a primeira-ministra da Dinamarca descreveu a visita como "pressão inaceitável".
A deslocação, sublinhe-se, ocorre numa altura em que o presidente norte-americano, Donald Trump, mantém as declarações sobre a anexação do território autónomo da Dinamarca pelos Estados Unidos.
A delegação norte-americana era inicialmente composta pelo conselheiro de segurança nacional, Mike Waltz, e o secretário da Energia, Chris Wright, tendo sido depois anunciada a visita de JD Vance.
Usha Vance deveria igualmente fazer uma visita oficial de quinta-feira a sábado com uma delegação para assistir a uma corrida de cães de trenó, de acordo com a Casa Branca.
"Houve tanto entusiasmo em torno da visita de Usha à Gronelândia, na sexta-feira, que decidi que não queria deixá-la ficar com toda a diversão, por isso vou juntar-me a ela", divulgou Vance num vídeo publicado na rede social X, acrescentando que se iria encontrar com membros da Força Espacial dos EUA e que também iria analisar questões de "segurança" envolvendo a ilha do Ártico.
Looking forward to visiting Greenland on Friday!🇺🇸 pic.twitter.com/p3HslD3hhP
— JD Vance (@JDVance) March 25, 2025
Já esta quarta-feira, após ter sido anunciado que a deslocação de JD Vance consistiria numa visita à base norte-americana de Pituffik na próxima sexta-feira na companhia da mulher, Usha Vance, a Dinamarca considerou tratar-se de uma decisão "positiva".
Da agenda da deslocação já não consta a visita à cidade de Nuuk, capital da Gronelândia, onde inicialmente estava previsto que a mulher do vice-presidente dos Estados Unidos fosse assistir a uma popular corrida de trenós puxados por cães e que tinha causado polémica com as autoridades dinamarquesas.
"Penso que é muito positivo o facto de os norte-americanos terem cancelado a visita a Nuuk. Em vez disso, vão visitar a base militar, em Pituffik, e não temos nada contra isso", destacou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Lars Lokke Rasmussen.
Gronelândia denuncia "interferência externa" e Dinamarca lamenta "pressão inaceitável"
Numa publicação nas redes sociais, na segunda-feira, o primeiro-ministro cessante da Gronelândia, Mute Edge, destacou que a "integridade e democracia" da Gronelândia "devem ser respeitadas sem qualquer interferência externa".
Já o provável sucessor de Edge, Jens-Frederik Nielsen, líder de centro-direita que ganhou as eleições, disse compreender "as preocupações" dos concidadãos.
"Não seremos forçados a entrar num jogo de poder em que não escolhemos participar. Nós decidimos por nós próprios o caminho a seguir", escreveu no Facebook.
A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, afirmou, na terça-feira, que "a pressão que está a ser exercida sobre a Gronelândia e a Dinamarca nesta situação é inaceitável".
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, Lars Løkke Rasmussen, disse à cadeia de televisão TV2 que as visitas mostram "uma apetência inapropriada por parte dos norte-americanos".
Por seu turno, Donald Trump destacou que a visita de altos responsáveis de Washington à região que pretende anexar é uma "abordagem amigável".
"Esta é uma abordagem amigável, não uma provocação", disse o presidente dos EUA após uma reunião de gabinete na Casa Branca. "Estamos a lidar com muitas pessoas na Gronelândia que gostariam de ver algo acontecer para que o território seja devidamente protegido e cuidado. Estão a recorrer a nós. Não somos nós que estamos a apelar a eles".
Recorde-se que, em meados deste mês, Trump afirmou que a anexação dos Estados Unidos ia "acabar por acontecer" e promover a "segurança internacional".
Embora todos os principais partidos da Gronelândia sejam a favor da independência do território a mais ou menos longo prazo, nenhum apoia a ideia de uma anexação por Washington. Também as sondagens de opinião indicam que a população de 57.000 habitantes é esmagadoramente contra.
A Gronelândia, que é quatro vezes maior do que a França, tem um interesse estratégico devido à localização - encontra-se na rota mais curta para a trajetória de quaisquer mísseis entre os Estados Unidos e a Rússia - e às riquezas minerais.
Leia Também: Dinamarca vê como positiva alteração da visita de JD Vance à Gronelândia