"Precisamos de uma visão global do que queremos para a Alemanha nos próximos anos e estou confiante de que o podemos conseguir em conjunto com os sociais-democratas", disse o presidente da União Democrata-Cristã (CDU) e provável futuro chanceler, Friedrich Merz.
O vencedor das eleições federais antecipadas, falava ao lado do líder da União Social-Cristã (CSU) da Baviera e primeiro-ministro daquele estado, Markus Söder, e dos dois copresidentes do Partido Social-Democrata (SPD), Lars Klingbeil e Saskia Esken, após uma reunião, numa nova etapa das negociações para a formação de um governo de coligação.
"Ainda temos obstáculos difíceis pela frente, mas estou otimista quanto à possibilidade de os ultrapassar", acrescentou.
As negociações sobre a coligação prosseguem, depois de os grupos de trabalho terem entregado as propostas, que devem agora ser analisadas, coordenadas e revistas, com vista a determinar se podem ser financiadas.
"Só podemos incluir num acordo de coligação projetos que saibamos como serão financiados. Não vale a pena fazer uma lista de projetos maravilhosos que não podem ser financiados. Não vamos cometer esse erro", disse Klingbeil.
Por seu lado, Esken admitiu que o público sabe mais do que a própria gostaria sobre os resultados parciais dos grupos de trabalho, mas também se mostrou otimista quanto à possibilidade de se chegar a um acordo.
As principais diferenças entre a CDU e a CSU, por um lado, e o SPD, por outro, têm a ver com a política de migração e a política fiscal.
Os sociais-democratas pretendem um desagravamento fiscal para as pessoas com rendimentos baixos e médios, enquanto a coligação democrata-cristã pretende um desagravamento para todos os cidadãos e para as empresas.
Enquanto o SPD é a favor de financiar o desagravamento fiscal com aumentos de impostos para os mais ricos, a CDU/CSU defende cortes nas despesas sociais.
"A CDU/CSU fez campanha dizendo que não podia haver aumentos de impostos e isso pode tornar-se a segunda mentira eleitoral", disse o cientista político Wolfgang Schröder à agência de notícias EFE.
Schröder aludia a uma outra afirmação de campanha, segundo a qual a CDU/CSU não apoiaria uma reforma do chamado "travão da dívida", o que acabou por fazer antes do início das negociações formais, com o apoio do SPD e dos Verdes (atual coligação no poder), para aumentar as despesas com a defesa e os investimentos em infraestruturas.
Os investimentos podem ser um impulso, mas, alertou Schröder, o dinheiro por si só não cria confiança entre as pessoas, e lembrou todas as despesas efetuadas durante a pandemia da covid-19.
No que se refere à questão da migração, as divergências prendem-se sobretudo com a proposta da CDU/CSU de que os requerentes de asilo registados noutros países da UE sejam reenviados para esses países. O SPD defende que tal só é possível através de acordos com os países em causa.
Apesar das diferenças entre os partidos, as negociações estão praticamente condenadas ao sucesso, uma vez que uma coligação entre a CDU, a CSU e o SPD é a única opção para formar um governo com maioria parlamentar.
"Pode funcionar, tem de funcionar", disse Klingbeil.
"Temos de ter um plano claro para modernizar a Alemanha. A Alemanha tem de recuperar a competitividade e temos de fazer algo por aqueles que trabalham neste país. Quando virem o tratado de coligação, têm de sentir que nos propusemos melhorar as suas vidas", acrescentou.
Após a primeira fase de conversações em 16 grupos de trabalho, as diferenças devem agora ser ultrapassadas num grupo de 19 pessoas.
O bloco conservador, formado pela CDU e pela CSU, venceu as eleições de 23 de fevereiro na Alemanha, tendo o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) ficado em segundo lugar, enquanto o SPD, do chanceler cessante Olaf Scholz, foi a terceira força política mais votada.
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