Num relatório hoje publicado e intitulado "'Todos os conspiradores': como a Tunísia usa a detenção arbitrária para esmagar a dissidência", afirma-se que, desde que o Presidente, Kais Saied, assumiu plenos poderes, no verão de 2021, o Governo mostra uma "crescente dependência de detenções arbitrárias e de processos politicamente motivados para intimidar, punir e silenciar os seus críticos".
A organização de defesa dos direitos humanos descreve "os casos de 22 pessoas detidas sob acusações abusivas, incluindo por terrorismo", após declarações públicas ou por causa das suas atividades políticas.
Os casos analisados incluem advogados, opositores políticos, ativistas, jornalistas, utilizadores das redes sociais e um defensor dos direitos humanos.
Segundo a HRW, em janeiro desde ano, pelo menos 14 detidos enfrentavam a pena de morte se fossem condenados e mais de 50 pessoas estavam detidas por motivos políticos ou por exercerem os seus direitos.
"As autoridades tunisinas não praticavam tal repressão desde a revolução de 2011", que levou à queda do ditador Ben Ali, disse o vice-diretor da HRW para o Médio Oriente e Norte de África, Bassam Khawaja, citado na apresentação do relatório.
"As autoridades têm de pôr fim à repressão contra os críticos e libertar todos os detidos arbitrariamente que, em muitos casos, apenas exerceram os seus direitos humanos", sublinhou.
Para este responsável da organização, o Presidente Saied "mergulhou o país novamente numa era de prisioneiros políticos, roubando ao povo tunisino as liberdades civis duramente conquistadas".
Desde o verão de 2021, quando Saied demitiu o seu primeiro-ministro e suspendeu o parlamento e lhe retirou a maioria dos seus poderes no âmbito de uma revisão constitucional, "as autoridades aumentaram significativamente a repressão da dissidência", lembra o relatório.
A publicação do relatório da HRW foi feita no meio de um julgamento contra quase 40 figuras proeminentes, incluindo opositores políticos e empresários, acusados de "conspiração contra a segurança do Estado" que, no momento da sua detenção, no início de 2023, foram rotulados como terroristas pelo Presidente Saied.
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