"Acordo Ortográfico entra em vigor em Cabo Verde e será irreversível"

O novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa entra na quinta-feira, oficialmente, em vigor em Cabo Verde, o segundo país a pô-lo em prática, após Portugal, numa mudança que será "faseada e irreversível", segundo o ministro da Cultura cabo-verdiano.

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Lusa
30/09/2015 21:51 ‧ 30/09/2015 por Lusa

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Em entrevista à agência Lusa, Mário Lúcio Sousa disse que, agora, o acordo será obrigatório, mas estimou que a velha grafia da língua portuguesa só desaparecerá definitivamente do país em 2020.

"Não é uma atitude que se possa exigir com ruturas. Há também previsão de que a implementação seja faseada. Assim como se previu uma fase de transição de seis anos (de 2009 a 2015), estamos a prever um período até 2019/2020 para a implementação paulatina do acordo ortográfico", sustentou Mário Lúcio Sousa.

O ministro esclareceu que o período de implementação paulatina será para o país erradicar "de vez" a velha grafia. Será adotado um Plano de Implementação Complementar, que será executado "de forma concertada e articulada" entre os diferentes intervenientes (Estado, Comunicação Social e estabelecimentos de ensino).

O AO (Acordo Ortográfico) foi aprovado no Conselho de Ministros cabo-verdiano em 2009, mas o Governo aprovou um período de transição de seis anos, altura em que as novas regras foram utilizadas dispersamente e através de corretores, em alguns departamentos da administração pública e nalguns jornais "online" do país.

O ministro garantiu à Lusa que estão criadas todas as condições para o país começar a escrever apenas com base nas novas regras da língua portuguesa, mas a partir de agora o Governo de Cabo Verde promoverá sessões de esclarecimento para professores, estudantes, funcionários, jornalistas, corpo diplomático, entre outros.

Irá também disponibilizar conversores ortográficos e outros instrumentos que facilitem o uso do AO, bem como um guia de utilização dirigido aos meios de comunicação social, que será fornecido pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional de Lisboa, que tem um protocolo com o Instituto da Investigação e do Património Culturais (IIPC) de Cabo Verde.

O executivo cabo-verdiano irá adotar a nova grafia em toda a correspondência oficial do Estado, em todos os órgãos de comunicação social, designadamente, jornais e televisões e Boletim Oficial.

Mário Lúcio Sousa reconheceu que o novo acordo terá implicações nas gráficas, nos escritores, nas editoras, nas escolas, mas o país está num "ponto de não retorno".

"É melhor nós avançarmos e depois trabalharmos as outras questões, porque não vejo que o acordo venha a ser anulado, por exemplo. Cabo Verde tem essa tradição de nós avançarmos e um país com poucos recursos não pode vacilar nessas situações", salientou.

Em declarações à agência Lusa, dois diretores de escolas secundárias na Cidade da Praia recordaram que há mais de um ano que estão a fazer as diligências para avançar com as novas regras da escrita da língua portuguesa, pelo que se espera que a sua implementação será normal e sem muita resistência.

"Agora, o nosso dever, enquanto responsável da escola, é esclarecer, sensibilizar e incentivar a implementação e, depois, conforme as regras e orientações do Ministério da Educação, a escola terá que avançar, engajar-se e colaborar nesse sentido", disse Fernando Pinto, diretor da Escola Secundária Cesaltina Ramos, com cerca de 1300 alunos.

Dizendo que até agora há uma "mistura de escrita" e que será feito um trabalho com os professores de Língua Portuguesa para consciencializar os alunos com as novas formas de escrita do português, Maria José Pires, diretora do liceu Pedro Gomes, explicou, entretanto, que será uma "transição natural e sem resistências".

O ministro disse que Cabo Verde não encontrou dificuldades para implementar o novo acordo e destacou o apoio de organizações, como o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), com sede na Praia, a Comissão Nacional das Línguas, órgão consultivo do Governo no que toca à política linguística, bem como o Ministério das Relações Exteriores (MIREX).

O acordo, firmado em 1990, já foi ratificado pela maioria dos países lusófonos, sendo que em Angola ainda não foi aprovado pelo Governo, em Portugal entrou em vigor em prática em maio último e no Brasil está previsto para 01 de janeiro próximo.

 

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