"Esta é uma crise estrutural histórica, antiga no Brasil e tem-se revelado casos realmente preocupantes nos últimos meses", disse à Lusa o investigador do Instituto de Estudos Sociais e Políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP/UERJ).
O professor de sociologia, que também é diretor da revista de ciências sociais Dados, falou à margem do seminário 'Movimentos sociais, polarização e a crise política no Brasil', que aconteceu no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.
Desde janeiro foram registados motins e mortes em pelo menos sete prisões do Brasil, que já provocaram mais de 130 mortos. Os piores casos ocorreram nos estados do Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte, onde, respetivamente, 56, 33 e 26 presos foram assassinados.
"Parece-me que esse vai ser um desafio ainda maior do que em ocasiões anteriores", disse.
"Isso porque o que está em jogo é, com esse cenário de austeridade, cortes e de desestabilização de direitos e políticas, que há uma tendência para uma maior conflitualidade social, muitas vezes o aumento da criminalidade, o fortalecimento de grupos paralelos e do narcotráfico, que passam a controlar, hegemonizar parcelas de territórios e parcelas da população as quais já não tinham tanto acesso", referiu ainda Bringel.
Segundo Bringel, "boa parte disso (fortalecimento de grupos criminosos) acontece dentro dos presídios, que são núcleos centrais de operações de boa parte destas estratégias, destas articulações".
"Uma primeira preocupação, a curto prazo, é ter os presídios orientados para a formação social e com condições mínimas de humanidade, que isso é o primeiro que deve ser reivindicado", referiu o investigador.
Para o sociólogo, é necessária "uma política que não seja apenas de criminalização, mas uma política que tente tratar esta situação não só como um problema criminal, mas também um problema social".