"Ainda esta semana, o Presidente da República contactou-nos, por intermédio de um militar, para um encontro clandestino, que não aceitámos. Se está perturbado com a nossa manifestação, ponha o seu cargo à disposição. E se quiser falar connosco, terá de ser uma audiência pública, não um encontro clandestino", disse Sana Canté no decorrer de um debate no Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa.
O ativista da Guiné-Bissau acusou ainda o Presidente guineense, José Mário Vaz, de ter infiltrado o seu Movimento dos Cidadãos Conscientes e Inconformados (MCCI) com agentes policiais e dos Serviços Secretos.
"Nesta última manifestação, do passado sábado [27 de maio], instrumentalizaram algumas pessoas. Nós temos a referência dos nomes das pessoas que conseguiram infiltrar a nossa manifestação", disse Sana Canté.
Uma manifestação do MCCI a 27 de maio culminou com confrontos com as forças de segurança, provocando ferimentos a dezenas de pessoas, entre os quais sete polícias.
Dias depois, o governo da Guiné-Bissau proibiu as manifestações previstas para o fim de semana passado em Bissau, justificando que poderiam colocar em "perigo a ordem e tranquilidade pública".
"O Presidente disse na Cimeira [da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)] que os partidos da oposição e o PAIGC instrumentalizaram os infiltrados, delinquentes para provocar mortos [na manifestação]", afirmou o dirigente.
"Nós entendemos justamente o contrário. Foi o próprio Presidente [quem o fez], porque da lista dos nomes dos infiltrados que nós temos só constam agentes da Polícia de Ordem Pública e agentes do Serviço Secreto do Estado", concretizou Sana Canté.
O líder do MCCI considerou que o povo da Guiné-Bissau teve 18 governos em 23 anos e agora está perto de "ter um Presidente com possibilidades de terminar o mandato".
"E no entanto é o pior Presidente de todos os tempos na Guiné-Bissau, mas com possibilidades de terminar o mandato. (...) José Mário Vaz, um Presidente pior do que o Kumba Ialá, está perto de conseguir -- com todos os meios maquiavélicos -- terminar o mandato", lamentou Sana Canté.
O dirigente reafirmou que os membros do Movimento que dirige "não são apologistas de golpes de Estado, nem da violência".
"Acreditamos na resolução dos conflitos por via pacifica", disse Sana Canté, ressalvando, porém, que não abdica do direito à manifestação.
"A nossa liberdade de manifestação não é negociável. Vamos continuar com as nossas manifestações. (...) Não vão conseguir parar-nos", sublinhou.