A pressão dos mercados sobre a dívida portuguesa, as negociações difíceis para desenhar o Orçamento do Estado de 2016 e a decisão da Fitch de cortar a perspetiva do rating público não estão a passar despercebidas nos Estados Unidos. Com a economia europeia a recuperar a um ritmo abaixo do esperado e o BCE a não conseguir colocar a inflação perto do objetivo definido, os norte-americanos procuram explicações para as dificuldades e o alvo parece ter sido encontrado: Portugal.
"Lisboa, temos um problema", começa por dizer o editor de mercados do MarketWatch, numa coluna que levanta a questão: "Será que Portugal pode ser o próximo epicentro da crise de dívida na zona euro?".
O jornal norte-americano fala nos elevados custos de financiamento da dívida nacional, agravados pela recente subida dos juros no mercado secundário. Citando a economista sénior da Capital Economics Jennifer McKeown, o MarketWatch avisa que "as coisas podem ficar feias" em Portugal, principalmente se a DBRS decidir rever em baixa o rating soberano nacional.
O jornal norte-americano fala de "um Governo de Esquerda que se tornou hostil para as agências de rating", arriscando novos cortes na notação com efeitos devastadores nas finanças do Estado.
A nota positiva da agência de rating canadiana DBRS permite que Portugal continue a ser elegível para o programa de compra de dívida do BCE, essencial na manutenção das baixas taxas de juro das economias periféricas da zona euro. Mesmo assumindo que o BCE já concedeu "exceções a países com dívida classificada como lixo, como por exemplo a Grécia", o jornal dos Estados Unidos lembra as condições do regime excecional: "As exceções só podem ser concedidas aos países que estão sob um programa de ajuda externa e a cumprir os termos acordados".
"Caso o BCE exclua a dívida portuguesa do seu programa de compra de obrigações, o mais provável é que os investidores fiquem preocupados com a hipótese de bancarrota", avisa o MarketWatch, antes de concluir: "O resultado seria um salto das taxas de juro das Obrigações do Tesouro, possivelmente rumo aos 8% na dívida a 10 anos que forçaram Portugal a pedir um resgate em 2011".