A presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) afirmou hoje que a reconstrução é efetiva, mas faltam respostas para os problemas do interior, para não se voltar ao território que existia antes de junho de 2017.
"As respostas que chegaram - e chegaram - foram respostas àquilo que era de emergência. Temos um território devastado, população muito diminuída na sua autoestima e posses, e a resposta chegou. Há reconstrução de casas, mas o território não perdeu só habitações, não perdeu só animais, não perdeu só anexos", alertou a presidente da AVIPG, Nádia Piazza, que falava aos jornalistas na sede da associação, à margem da apresentação de vários projetos apoiados pelo Fundo de Apoio às Populações e à Revitalização das Áreas Afetadas pelos Incêndios.
Segundo Nádia Piazza, está "tudo" por fazer no que toca a uma resposta estruturada para garantir que o território afetado pelo grande incêndio de Pedrógão Grande não regresse ao estado em que estava antes do incêndio.
"Voltemos ao dia 16 de junho [um dia antes do incêndio] e estava tudo por fazer, antes de o fogo passar. O problema do interior de Portugal é de pobreza, de falta de oportunidade, que passa por ordenamento do território, que passa por trazer investimento sério, concreto, público e privado" para o interior, defendeu.
A presidente da AVIPG sublinhou que o incêndio de 17 de junho de 2017 só aconteceu porque o território apresentava já grandes debilidades.
Se se voltar a ter o território que havia antes do fogo, vincou, "daqui a dez ou 12 anos" irá ocorrer a mesma coisa, "com um fogo devastador como esse".
Para Nádia Piazza, é necessário garantir que a região não volta ao estado em que estava antes, até porque os grandes fogos de 2017 terão de obrigar a classe política e o Governo a repensar o interior.
"Se faltavam factos e evidências, 17 de junho trouxe-os e em outubro repetiu-se. Temos demasiadas impressões digitais para aquilo que aconteceu. Não é possível não haver uma aposta política concreta nessa matéria", sublinhou.
Na região afetada pelo incêndio de Pedrógão Grande, os concelhos mais afetados (Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos) lideram no despovoamento, envelhecimento e baixo poder de compra do distrito de Leiria, os orçamentos municipais estão presos à despesa corrente e há pouca iniciativa privada.
O incêndio que deflagrou há um ano em Pedrógão Grande (distrito de Leiria), em 17 de junho, e alastrou a concelhos vizinhos provocou 66 mortos e cerca de 250 feridos.
As chamas, extintas uma semana depois, destruíram meio milhar de casas, 261 das quais habitações permanentes, e 50 empresas.
Em outubro, os incêndios rurais que atingiram a região Centro fizeram 50 mortes, a que se somam outras cinco registadas noutros fogos, elevando para 121 o número total de mortos em 2017.