O caixão do médico, que morreu na terça-feira aos 67 anos, foi transportado da Cooperativa para o carro funerário pelo filho, Miguel Semedo, pelo deputado do BE José Soeiro, pelo ex-dirigente do Bloco Francisco Louçã e, entre outros, por José Manuel Pureza, para quem Semedo era "o melhor amigo, um irmão mais velho" e um homem "elegante", com "capacidade de juntar as pessoas".
Pelas 13h30, o desfile fúnebre seguiu, debaixo de fortes palmas, para o cemitério do "Prado do Repouso", para uma cerimónia reservada aos mais próximos de Semedo, que na quinta-feira pelas 21h00 vai ser alvo de uma homenagem no Teatro Rivoli, no Porto, segundo revelou à Lusa fonte partidária.
A saída da viatura fúnebre da zona das Virtudes foi alvo do terceiro longo aplauso na despedida a Semedo: o primeiro ocorreu na cerimónia reservada realizada na sala do velório, onde Pureza leu o texto que escreveu para o jornal Expresso sobre o amigo, intitulado 'Uma elegância sem igual'; o segundo aconteceu quando o filho e dirigentes do Bloco de Esquerda transportaram o caixão.
Em declarações aos jornalistas, José Manuel Pureza disse entender o "grande apreço que atravessa a sociedade portuguesa pelo testemunho de coerência, de generosidade, elegância, determinação e de serviço que marcou a vida do João".
"Certamente que é uma unanimidade relativamente a essa avaliação que se faz de toda a vida porque o João nunca prescindiu de seguir um caminho que era um caminho de contraste. Defender o Serviço Nacional de Saúde público, gratuito, de acesso universal não é objeto de unanimidade e o João deu toda a força a essa luta", lembrou o dirigente do Bloco.
Pureza referiu também que "defender o direito ou a morte digna como o João fez não foi seguir o caminho da unanimidade".
"O João nunca seguiu o caminho da unanimidade, o que o João soube fazer sempre foi combinar a sua determinação com uma vontade e capacidade invulgar de juntar gente, juntar saber, juntar competências, juntar movimento para que as coisas pudessem acontecer", elogiou.
Pureza destacou ainda "uma disponibilidade pessoal e uma elegância que toda a gente aprecia e que ninguém consegue repudiar", considerando que tal deu a Semedo "uma autoridade nas suas propostas que as tornava difíceis de rebater".
"Os adversários das propostas que o João fez tinham muitas das vezes grandes dificuldades, não só pelo saber técnico que o João punha nas suas propostas", afirmou.
Para além da "autoridade" de conhecimento que sustentava as ideias de Semedo, Pureza assinalou-o como alguém "que deixa um testemunho de vida que toda a gente aprecia, que toda a gente tem respeito".
A Pureza, Semedo deixou algo mais: "Tendo feito com ele um caminho de cumplicidade politica, fiz um caminho de uma amizade que foi crescendo sempre. E não tenho dúvidas em dizer que nesta fase da minha vida o João era indiscutivelmente o meu melhor amigo, era o meu irmão mais velho. Para mim, pessoalmente é uma perda dilacerante", disse.
No velório desta manhã estiveram presentes personalidades como a líder do BE Catarina Martins, a eurodeputada do BE Marisa Matias, a deputada Mariana Mortágua, o líder do PS Carlos César, o presidente da Assembleia da República Ferro Rodrigues, a ministra da Presidência, em representação do primeiro-ministro, bem como o representante da Casa Militar e o assessor político da Presidência da República, em representação de Marcelo Rebelo de Sousa.
A eles juntaram-se o presidente da Assembleia Municipal do Porto, Miguel Pereira Leite, alguns vereadores e ex-vereadores do PS na Câmara do Porto, como Manuel Pizarro ou Manuel Correia Fernandes, o historiador Germano Silva, Honório Novo, do PCP, e muitos outros.
Após 30 anos de militância no PCP, João Semedo aderiu ao BE em 4 de abril de 2007, apesar de a aproximação ao partido ter acontecido três anos antes, quando integrou, enquanto independente, as listas bloquistas às eleições europeias de 2004, a convite de um dos fundadores do Bloco Miguel Portas.
Depois da saída de Francisco Louçã de líder do partido, entre 2012 e 2014, João Semedo assumiu a coordenação, em conjunto com Catarina Martins, numa solução de liderança bicéfala que os bloquistas viriam a abandonar.
O ex-coordenador do BE e médico teve uma vida marcada pela política e participação cívica, tendo as duas últimas lutas sido a despenalização da eutanásia e a defesa do Serviço Nacional de Saúde.
A batalha de João Semedo contra o cancro começou em 2015, quando renunciou ao mandato de deputado da Assembleia da República que exercia desde 2006.
Semedo, que nasceu em Lisboa, a 20 de junho de 1951, vivia no Porto há mais de 40 anos.