À saída da primeira sessão de instrução do processo Operação Marquês, onde Bárbara Vara foi a primeira arguida a ser ouvida, o advogado da filha de Armando Vara admitiu não ter a certeza de que as razões apontadas pela Defesa sejam suficientes para que Bárbara não tenha de ir a julgamento.
Contudo, o advogado Rui Patrício garantiu, à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), em Lisboa, que os motivos apontados são verdadeiros e que “isso é que importa”.
“Não sei se é suficiente para a Justiça, o que eu sei que é verdade e é isso que importa. É a convicção que tenho e é nessa base que assumimos esta Defesa. Para nós é uma questão de verdade e de convicção”, afiançou em declarações aos jornalistas, lembrando que Bárbara Vara só assinou documentos a mando do pai e que não tinha acesso às contas deste último.
Quanto ao que aconteceu no interior do TCIC, o advogado não quis entrar em pormenores, mas disse que "correu normalmente" e que "não havia razões para não estar satisfeito. A constituinte [que é acusada de dois crimes de branqueamento de capital] respondeu às perguntas que lhe foram feitas, normalmente".
Já quanto à sessão de Armando Vara, que foi adiada para dia 5 de fevereiro devido à greve dos guardas prisionais, Rui Patrício reforçou que "todos os depoimentos são importantes", recusando dar demasiada importância ao depoimento do antigo governante na defesa da filha.
O advogado de Bárbara Vara garantiu ainda "estar tão confiante" quanto quando entrou no tribunal e "tão confiante quanto estava no momento" em que tomou conta deste caso e assumiu a sua defesa.
Salgado está a "lutar pela sua inocência porque quiseram logo condená-lo"
No final da primeira sessão da fase de instrução, que durou cerca de uma hora e meia, o advogado do banqueiro Ricardo Salgado, que não requereu esta fase processual facultativa, admitiu que "há documentos jurídicos muito válidos de outros arguido que podem valer a todos".
"A instrução vai demorar muito tempo. Não queria fazer uma previsão. Vamos acompanhar esta fase serenamente", disse.
Questionado sobre o estado de espírito de Ricardo Salgado, Francisco Proença de Carvalho respondeu: "desde 2014, altura da queda do BES, o seu estado de espírito é de lutar pela sua convicção, pela sua inocência porque quiseram logo condená-lo".
O ex-presidente do BES está acusado de 21 crimes, nomeadamente corrupção, branqueamento de capitais, abuso de confiança e fraude fiscal.
A próxima sessão da instrução está marcada para quarta-feira com a audição de testemunhas arroladas por Bárbara Vara.
O juiz de instrução Ivo Rosa já marcou diligências até final de maio, prevendo-se que a decisão final sobre se o processo vai para julgamento e quais os crimes seja conhecida só no final do ano.
O inquérito Operação Marquês, que teve início há mais de cinco anos, culminou na acusação a 28 arguidos, pela prática de quase duas centenas de crimes (188) de natureza económico-financeira.
José Sócrates está acusado de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16 de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documentos e três de fraude fiscal qualificada.
Entre outras imputações, o Ministério Público acusa Sócrates de receber cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses do ex-banqueiro Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santos e na PT, bem como para garantir a concessão de financiamento da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento de luxo Vale do Lobo, no Algarve, e por favorecer negócios do Grupo Lena.
Entre os 28 arguidos estão o empresário Carlos Santos Silva, o ex-presidente da PT Henrique Granadeiro, Zeinal Bava, Armando Vara, Joaquim Barroca, Helder Bataglia, Rui Mão de Ferro e Gonçalo Ferreira, empresas do grupo Lena (Lena SGPS, LEC SGPS e LEC SA) e a sociedade Vale do Lobo Resort Turísticos de Luxo.
[Notícia atualizada às 18h29]