“O que sempre disse é o que sempre vou dizer. Entrei nesta cadeia sem fazer mal à minha filha. Vou dizer sempre até ao resto da minha vida, onde quer que ela esteja, quem a levou, quem lhe fez mal, por favor devolvam-na”, afirma em declarações à TVI.
Leonor Cipriano diz sair da cadeia “com a cabeça erguida” e garante que Joana, naquela noite, quando saiu para ir às compras num café próximo de casa, nunca mais regressou a casa, apesar de a investigação ter concluído o contrário, que as compras que a menina tinha ido fazer já estavam em casa.
Leonor Cipriano disse não querer relacionar-se com o seu irmão, apesar de não querer, declaradamente, atribuir-lhe culpas no desaparecimento da filha.
“Não quero nada com ele. Porque dei-lhe casa e se não lhe tivesse dado casa, se calhar a minha filha não tinha desaparecido”, referiu, reforçando que a própria não tem “nada a ver” com o desaparecimento de Joana.
Questionada sobre o facto de ter confessado, ao longo do processo, que tinha assassinado a filha, tendo inclusive dado indicações onde estaria o corpo (que lhe valeram uma condenação por falsas declarações), Leonor Cipriano justificou: “Torturaram-me tanto, deixaram-me toda rocha de tanta porrada que me deram que cheguei a um ponto em que já não sabia o que estava a dizer, já não dizia coisa com coisa”.
Leonor Cipriano admitiu que sim, que confessou ter assassinado a filha, mas diz estar arrependida de o ter feito, uma vez que, como alega, não matou Joana.
“Com a porrada que levei, disse. Mas se o arrependimento matasse, hoje era uma pessoa morta. Mas não fiz [mal à filha]. E tenho a cabeça erguida e vou sair daqui e sei que não o fiz. Vou a toda o sítio que eu poder ir, vou à procura da minha filha, hei-de encontrá-la, nem que seja não sei onde. Porque até hoje nunca tiveram provas, não encontraram a minha filha e meteram-me aqui dentro, sem provas sem nada”, disse.
Apesar disso, Leonor Cipriano não vai pedir uma revisão do processo, deixando “tudo como está”. “Vou trabalhar e fazer a minha vidinha”.
O caso remonta a 12 de setembro de 2004, o dia do misterioso desaparecimento de Joana Cipriano, na aldeia da Figueira, no Algarve. Desde esse dia, muitas foram as teses para justificar o desaparecimento da menina (chegou a pensar-se que pudesse ter sido vendida ou raptada). Certo é que a criança, na altura com oito anos, saiu de casa para ir às compras num café vizinho e nunca mais foi vista. O corpo nunca chegou a ser encontrado.
Entretanto, a mãe, Leonor Cipriano, e o tio, João Cipriano, viriam a admitir ter matado Joana. Existe a tese de que o corpo foi cortado e dado como alimento aos porcos. Há a suspeita de que Joana tenha apanhado a mãe e o tio a terem relações sexuais e que terá sido morta por causa disso. Leonor e João Cipriano foram condenados a 16 anos e oito meses de prisão por homicídio e ocultação de cadáver, em 2006.
Na aldeia da Figueira, apesar de o caso estar encerrado por parte da Justiça, as dúvidas e contradições sobre o que terá realmente acontecido naquela noite persistem. E isso mesmo relataram os vizinhos e padrasto de Joana ao Notícias ao Minuto, em 2017, por ocasião dos 13 anos do desaparecimento da criança. "Algo aconteceu, mas aquela miúda não foi morta em casa", afirmava então uma vizinha.