Os trabalhadores da higiene urbana do município de Lisboa estão em greve desde quarta-feira e até 02 de janeiro.
No Bairro do Rego, em Lisboa, a Lusa constatou o cenário que já se repete por vários bairros lisboetas, com lixo acumulado junto às ecoílhas e aos contentores de resíduos orgânicos.
As gaivotas, conhecidas por serem muito vocais, dão conta da sua presença junto de alguns contentores onde o lixo já se acumula desde o dia 24, voando entre uma esquina e outra, junto à construção do novo quartel dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses.
Na Rua Marciano Henriques da Silva, pintor açoriano retratista do Rei D. Luis I, os contentores até podiam considerar-se uma instalação de arte moderna, pois entre comida depenicada pelas aves, cartão, papel de embrulho e garrafas, de tudo um pouco se encontra.
A socióloga Elisabete Costa disse à Lusa que a greve dos trabalhadores da higiene urbana já está a "provocar constrangimentos", lembrando que nas alturas festivas repete-se sempre a mesma situação.
Agora, com obras no Bairro Social do Rego, a socióloga reconhece que ainda está pior porque não há recolha de lixo volumoso, adiantando ter já pedido, por duas vezes, que fosse feita, mas sem resposta até ao momento.
"Além disso, ainda temos um outro problema (...) como é um bairro social, vêm aqui [depositar o lixo]", denunciou Elisabete Costa, reconhecendo que são pessoas de fora do bairro que vão despejar o seu lixo naqueles contentores e ecoílhas.
Como tal, considerou que a junta de freguesia ou a câmara municipal deviam informar a população, porque as pessoas "criaram o hábito de despejar o lixo no bairro social", acrescentando a necessidade de ser feita alguma coisa no sentido de demover as pessoas.
Mais no centro da cidade, na Rua Francisco Sanches, junto à Morais Soares, na freguesia de Arroios, o lixo acumulava-se à volta das ecoílhas semienterradas que já estavam cheias.
Um morador da zona que foi despejar dois sacos pretos e que não quis ser identificado disse à Lusa não saber que estava a decorrer uma greve e, quando informado que terminaria em 02 de janeiro, reconheceu que a situação nas ruas ainda vai ficar "muito pior".
Já José Marques, morador na Morais Soares, revelou que o problema do lixo na rua onde nos encontrávamos "já não é novidade", acusando que "já há muito tempo" que os moradores se queixam que as frutarias enchem os contentores não deixando espaço para o lixo dos outros.
No entanto, nos montes de lixo que rodeiam as ecoílhas há de tudo: cartão, papel de embrulho, caixas de sapatos, de leitão, e lixo orgânico, muito lixo, mas nada de fruta.
Ao largo passou um funcionário da Junta de Arroios, munido com o seu carrinho de mão do lixo e vassoura, mas não prestou declarações à Lusa, disse só estar a fazer o seu trabalho.
Já na Alta de Lisboa, na freguesia do Lumiar, alguém estará satisfeito sentado na sua cadeira de frente para o novo ecrã de 'gaming' que recebeu no Natal e cuja caixa se encontra a céu aberto depositada junto ao contentor verde do lixo.
O natal foi generoso naquela zona da cidade, pelo tipo de lixo que se vê junto ao contentor para lixo orgânico. A separação não foi feita, há papel de embrulhos, caixas de ovos, caixas de sapatos e ténis, embalagens de brinquedos, latas de tinta, garrafas de vidro e plástico e até prateleiras e um sofá pequeno.
Os apelos feitos pelos responsáveis da Higiene Urbana da Câmara Municipal de Lisboa para se evitar depositar o lixo não urgente não foram levados em conta pelo que a Lusa se apercebeu durante a ronda que fez pelas principais ruas da cidade, um dia depois do Natal, o primeiro da greve.
"É só festas, é só o lixo das festas e se não vêm recolher, vai só acumulando e vai ficar. Vai ser o caos. Ainda falta uma semana praticamente até dia 02 de janeiro, nem sabia que tinha a ver com essa situação", disse Ricardo José, morador do Lumiar.
A Câmara Municipal de Lisboa distribuiu pela cidade 57 contentores para deposição de lixo orgânico e reciclável, para atenuar os efeitos da greve ao trabalho extraordinário convocada pelos trabalhadores, em curso desde quarta-feira e até 02 de janeiro. A esta greve junta-se uma greve de 24 horas durante dois dias: hoje e na sexta-feira.
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