"Não estamos em estado de negação, podemos estar em estado de desinformação. Não estamos a negar evidências pois temos de ter o conhecimento delas", disse Célia Ramos, respondendo ao deputado do Partido-Animais-Natureza (PAN), André Silva, acerca da inação do Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF) face ao ataque de aves necrófagas a animais vivos na zona da Beira Baixa.
De acordo com o deputado do PAN, existem "relatos e denúncias" ao Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) e à Comissão de Agricultura e Mar, por parte de criadores de gado relativamente ao "ataque continuado de aves necrófagas a animais vivos na zona da Beira Baixa, sem que haja qualquer intervenção até à data".
A secretária de Estado, que falava na Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, explicou aos deputados que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) "tem conhecido de queixas", mas "não foi possível obter provas de que estes ataques foram realizados por aves necrófagas ou por outro tipo de animais como cães selvagens".
Célia Ramos adiantou ainda que já foi contactado o "alegado produtor de gado que mais tem sofrido com esta situação" para o informar dos procedimentos que deve adotar quando uma situação destas acontece, nomeadamente, contactar os serviços de veterinária "o mais breve possível" e "não mexer nos animais mortos".
André Silva acusou a secretária de Estado de estar "num estado de negação" com o que está a acontecer na Beira Baixa, lendo parte de um relatório datado de 03 de julho de 2018, de um técnico superior do ICNF, onde este revela que, quando foi à propriedade de uma pessoa que viu o seu rebanho de ovelhas ser atacado supostamente por aves necrófagas, "dois abutres negros levantaram voo de uma carcaça de ovelha".
"No terreno deparamo-nos com duas ovelhas mortas, estando uma delas descoberta e outra tapada de véspera com um "big bag". O animal que estava descoberto tinha cabeça e pescoço consumidos, restando deles apenas a estrutura óssea e denotando terem sido comidos pelos abutres", leu-se André Silva.
O deputado continuou ainda com a leitura do documento: "a que fora tapada apresentava apenas um ferimento numa parte do pescoço, no lado direito, e a cavidade ocular vazada. Não detetámos quaisquer indícios de ataque de carnívoros. Ambas apresentavam sinais de bicadas e pedaços de lã arrancados".
De acordo com o relato do técnico do ICNF, a equipa constatou que os animais "foram mortos no local, comprovado com uma grande mancha de sangue junto a cada cadáver, não apresentando sinais de neles se terem sequer alimentado carnívoros".
"No caso em apreço, na ausência de indícios claros de outros predadores e salvo melhor opinião, parece-nos verosímil que a morte destes animais se tenha devido a ataque de grifos", refere o relatório citado pelo deputado do PAN.
Para André Silva, está a falhar a alimentação das aves necrófagas o que os pode "transformar em animais predadores" atacando os animais vivos.
No entanto, a secretária de Estado garantiu a existência de sete campos de alimentação para estas aves, sendo um deles -- o da Serra da Malcata - gerido pelo próprio ICNF e os restantes seis por Organizações Não-Governamentais ligadas ao ambiente.
A secretária de Estado adiantou que será aprovado durante o mês de julho um plano de gestão, com "10 medidas com metas e indicadores", de onde salientou "o fomento da nidificação e reprodução, disponibilização da alimentação, redução da mortalidade e a promoção e articulação entre políticas, nomeadamente com a política agrícola".
Célia Ramos frisou também que a "grande mudança" com este novo plano tem a ver com "o reforço e a prioridade que é dada à alimentação fora dos campos de alimentação, que será complementada com a deposição de sub-produtos animais em outros locais do território", avançando que será licenciado proximamente um no Tejo Internacional.