Marcelo Rebelo de Sousa visitou hoje na aldeia de Ribeira do Fernando, freguesia de Concavada, Abrantes (Santarém), o ativista Eduardo Jorge, de 57 anos, tetraplégico desde os 21 anos depois de um acidente de viação, um dos cerca de 400 cidadãos portugueses que integram neste momento o projeto piloto de Vida Independente, modelo que lhe permite, desde maio, estar em sua casa apoiado por cuidadores escolhidos por si e pagos pela Segurança Social.
No final da visita à casa, à horta e ao quintal de Eduardo Jorge, com toda uma aldeia a aplaudir e tirar fotos e 'selfies' com o Presidente da República, o Chefe de Estado destacou "a forma muito mais digna" e a "opção da vida muito justa " com que estes cidadãos vivem o seu dia a dia através deste projeto, tendo feito notar que o mesmo é "resultado de vários militantismos e de muita gente".
Eduardo Jorge, que hoje tem direito a cuidadores durante 16 horas por dia, nunca se resignou a passar o resto dos seus dias num lar de idosos, onde esteve vários anos, tendo encetado vários protestos reclamando por "dignidade e liberdade" de escolha através de modelo de vida independente.
Com o apoio de amigos e do movimento que criou, "Nós, Tetraplégicos", foi de cadeira de rodas de Concavada até Lisboa (uma viagem de três dias e cerca de 150 quilómetros) e realizou greves de fome em frente ao Parlamento, a última das quais dentro de uma jaula, tendo desmobilizado o protesto após ter sido visitado no local por Marcelo Rebelo de Sousa.
Questionado sobre os motivos da visita, o Presidente da República disse hoje que acedeu a "um convite" de Eduardo Jorge, tendo feito notar que é um cidadão "muito autodeterminado, muito livre, muito independente" e que "foi bom vê-lo mais feliz, a trabalhar com a senhora secretária de Estado e todos os que apoiam esta causa por mais felicidade para muitos mais portugueses".
O projeto piloto que está a avançar "é uma bola de neve, vai abranger cada vez mais gente e é irreversível", frisou, tendo assegurado que "já não se volta para trás" neste processo.
"Quando se sonhou com uma democracia, também social e não só politica, sonhou-se a pensar neste tipo de justiça também", concluiu.
Em declarações aos jornalistas, a secretária de Estado da Inclusão de Pessoas com Deficiência, disse que o projeto piloto de Vida Independente, que tem a duração de três anos e uma verba global alocada de 36 milhões de euros, tem atualmente 17 centros a executar o programa, abrangendo cerca de 400 pessoas.
"Quando tivermos o sistema em pleno a funcionar vamos conseguir chegar a qualquer coisa como 870 pessoas em 35 centros de apoio à vida independente, espalhados pelo norte e sul do país", disse Ana Sofia Antunes.
Questionado sobre se valeram a pena os protestos efetuados ao longo dos últimos anos, Eduardo Jorge disse que só fez "o que tem de ser feito", e que, depois, "as consequências aparecem, ou não".
"Faço [os protestos] porque não consigo entender porque pessoas como nós, que têm limitações, têm de ser excluídas. Eu não aceito e digo que não. De braços cruzados é que não é solução", concluiu, afirmando o seu "orgulho" e "alegria" pela visita do Chefe de Estado.