Marcelo Rebelo de Sousa foi o convidado especial do Alta Definição deste sábado, numa altura em que o programa da SIC, apresentado por Daniel Oliveira, comemora 10 anos de existência.
A pergunta mais aguardada, 'O que dizem os seus olhos', ficou para o fim. Já lá vamos. Antes, o Presidente da República respondeu a muitas outras questões que interessam aos portugueses e ao país, assim como falou de assuntos relacionados com a sua vida pessoal.
O período mais difícil enquanto Chefe de Estado
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu durante a entrevista que um dos períodos mais difíceis da sua vida como Chefe de Estado aconteceu em 2016, logo que tomou posse, com tensão social que o país vivia e com a instabilidade bancária.
"Quando comecei a exercer a função a sociedade portuguesa estava muito crispada. Pareciam dois países dentro do mesmo país e ultrapassar isso demorou tempo.Tive um ano muito difícil em 2016. A maior parte dos portugueses não têm noção da situação bancária na altura. Tive de acompanhar isso de muito perto e foi muito difícil a recuperação de vários bancos ao mesmo tempo. Houve noites que não dormi nada", começou por dizer.
"Havia planos muito claros para que uma parte muito grande da banca ficasse em mãos de um país que, embora muito amigo e irmão, é o país vizinho, não é Portugal, e isso levou-me a dizer, em Espanha, que achava mal haver um monopólio da banca portuguesa por espanhóis", adiantou.
Contudo, tal como já tinha dito noutras situações, o "período mais difícil" do seu mandato foi 2017, com os incêndios de junho e outubro, quando morreram mais de 100 pessoas.
"2017 foi de facto um ano terrível[...] Apanhámos com as duas vagas de incêndios e isso é uma coisa que caiu muito na minha consciência. Ao ponto de chegar a dizer que se houvesse uma repetição isso teria de me levar a ponderar se me iria recandidatar no futuro. Eu sou responsável como Presidente da República, mesmo daquilo que não depende diretamente de mim. Sou um pouco responsável moral. Se há este tipo de tragédias, bate-me na consciência", explicou.
Já sobre os momentos mais felizes do seu mandato, Marcelo Rebelo de Sousa enumerou vários entre os quais a visita do Papa Francisco a Portugal e a Seleção Nacional ter ganho o Europeu.
Caso de Tancos. Alguém lhe mentiu?
Um dos assuntos mais polémicos que envolveu o nome de Marcelo Rebelo de Sousa nos últimos meses foi o caso Tancos e a recuperação das armas. Questionado sobre a possibilidade de alguém lhe ter mentido, o Presidente foi perentório.
"Não! Sempre disse que a senhora procuradora-geral da República, que exerceu funções até o ano passado, foi de uma lealdade institucional total. Portanto, obviamente eu sempre soube exatamente quais eram as preocupações do Ministério Público [...]. O Presidente sabia perfeitamente pela fonte que deveria saber que era através da procuradora-geral da República", garantiu.
"António Costa não era um aluno que estudasse muito"
Sobre o primeiro-ministro, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que conhece António Costa desde os 19 anos e que este foi seu aluno. Apesar de ser um bom aluno e de ter tirado na sua disciplina 17 valores, o Chefe do Executivo "preferia a política ao estudo".
"Foi bom aluno, não que estudasse muito porque era dirigente associativo e portanto preferia a política ao estudo mas, nos momentos cruciais de avaliação, era bom aluno. Teve 17 valores".
Já sobre a sua relação com António Costa, o Presidente da República relembrou que atravessaram, "em conjunto, momentos muito difíceis" e que "a cooperação em momentos mais críticos exige uma maior sensibilidade".
Sobre o "otimismo irritante" do Chefe do Executivo agora indigitado, Marcelo diz que "é uma maneira de ser dele, ele foi sempre assim". "O primeiro-ministro tende, em muitos casos a elevar as expetativas, acha que as coisas se compõem e eu muitas vezes apanhei muita pancada por ter abortado esse otimismo irritante", revelou.
Popular ou populismo?
Acusado muitas vezes de populismo, Marcelo Rebelo de Sousa admite que é extrovertido mas garante que tem sempre atenção ao cargo que representa.
"O peso do cargo está sempre comigo. Parece que não está porque eu tenho este ar muito extrovertido, mas eu estou sempre a pensar que sou presidente da República e tenho os meus limites. Alguns dirão que é uma linha muito estreita entre o ser-se popular e estar-se próximo do populismo, mas eu estou sempre atento a esta linha. Tudo o que diga e tudo o que faça tem o peso do Estado. Faço-o com o meu estilo, pela positiva. Dir-me-ão: 'Mas é leve demais'. É como é", sublinhou.
Recandidatura e o estado de saúde
Marcelo é conhecido por ser hipocondríaco. E assume que sim, que tem "a fama e o proveito", mas diz que há uma diferença entre o "hipocondríaco habitual", aquele que tem a mania das doenças. O professor gosta de teorizar "sobre as doenças", gosta de "saber o que se passa".
E prefere também que os portugueses saibam o que se passa com o seu Chefe de Estado, por isso assumiu que, nas próximas semanas, irá fazer um cateterismo.
"Achei que devia fazer exames e fiz e, genericamente, estão bem mas restou uma dúvida que vai obrigar a um novo exame e vou ter de fazer, daqui a algumas semanas, um cateterismo. [É] para ver um determinado vaso sanguíneo, para ver se a acumulação de cálcio está num grau que é excessivo ou não", esclareceu.
E a sua recandidatura depende muito disso também. "Depende porque falta, apesar de tudo, um ano para a recandidatura. Para a eleição falta um ano e mais uns meses. É evidente que antes de me recandidatar eu, com este estilo de presidência, que é uma presidência próxima - e eu não vou mudar de estilo-, terei de fazer exames como os que vou fazer", disse.
E será que os resultados das legislativas influenciaram a sua decisão?
"O resultado das eleições legislativas não criou nenhum fator, no meu espírito, perturbador de uma recandidatura. Em termos de percentagem, a percentagem mais favorável em sentido da recandidatura do que em termos da não recandidatura continua presente, hoje, mas a decisão só é tomada daqui a um ano", ressaltou.
E o que dizem os seus olhos?
Antes da pergunta mais aguardada da entrevista, Marcelo Rebelo de Sousa disse que gostaria de ser recordado um dia como "bom pai, bom avô, bom professor" e como um Presidente da República que, "na medida do possível, criou uma certa estabilidade política e positiva ao país, puxando o país para cima".
E o que dizem os olhos do Marcelo? Dizem que "os portugueses são excecionais. Conseguem fazer todos os dias omeletes sem ovos e sopa da pedra de praticamente sem nada. Do melhor que há no mundo. Os portugueses foram ainda mais surpreendentes do que eu tinha imaginado".