Tejo: Nível das águas baixou 20 metros. Dois afluentes estão quase secos

Nível das águas no rio Tejo Internacional chegou aos mínimos dos últimos 40 anos. Os afluentes Ponsul, na Beira Baixa, e Sever, no Alto Alentejo, estão praticamente secos, devido à gestão de recursos hídricos espanhola.

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Mafalda Tello Silva
18/10/2019 11:35 ‧ 18/10/2019 por Mafalda Tello Silva

País

Rio Tejo

Nas últimas quatro décadas nunca se registaram níveis tão baixos no rio Tejo Internacional. Segundo uma reportagem da SIC Notícias, intitulada 'Rio Seco', os 40 quilómetros do rio mais extenso da Península Ibérica "estão no fundo" e dois afluentes em Portugal - Ponsul, na Beira Baixa, e Sever, no Alto Alentejo - esvaziaram e estão praticamente secos devido às políticas e levadas a cabo por Espanha e à gestão de recursos hídricos realizadas pelos organismos responsáveis espanhóis. 

O problema tem origem na barragem de Cedilho, que se encontra maioritariamente em território português, localizando-se entre o distrito de Portalegre e o de Castelo Branco. Ainda assim, a barragem é gerida pela "mais poderosa" eléctrica espanhola. É em Cedilho é realizada a gestão do volume de água do Tejo que passa para o caudal do mesmo em Portugal, tendo em conta que esta é a última barragem entre os dois países.

Esta gestão é regulada pela Convenção de Albufeira que dita que Espanha tem de libertar 2.700 hectómetros cúbicos por ano ano hidrológico, que começa em outubro e termina em setembro

"Espanha foi libertando o caudal mínimo exigido, mas quando chegou setembro, declararam o estado de emergência por seca e tiveram de libertar tudo o que não tinham libertado durante o ano hidrológico. (...) de repente tiveram de libertar muita água para que no final do ano hidrológico, a 30 de setembro, cumprissem o que está na convenção entre os dois países", explicou ao referido órgão de comunicação António Riscando, da Alcaide de Cedilho. 

Ou seja, no espaço de apenas duas semanas, terão passado mais de 400 hectómetros cúbicos pela barragem do Cedilho, o que baixou exponencialmente o Tejo Internacional, levando o nível das águas a baixarem cerca de 20 metros.

“Espanha violou a Convenção de Albufeira"

Vários ambientalistas e membros do movimento de defesa do Tejo, em declarações à SIC, consideraram que “Espanha violou a Convenção de Albufeira, porque passou apenas 90% daquilo que era suposto" e que assim, Portugal fica com "o Tejo a seco durante 10 meses e depois em agosto e setembro enviam água para tentar cumprir convenção"

A Agência Portuguesa do Ambiente concorda que houve uma ação tardia de Espanha e está marcada uma reunião em novembro, em Lisboa, para esclarecimentos. Ainda assim, ambientalistas exigem a renegociação da Convenção de Albufeira para impedir que este tipo de situações voltem a acontecer. 

"Portugal aproxima-se do deserto do Sahara em 20 anos"

Mas, para além da gestão espanhola do rio Tejo, o fenómeno da seca não pode ser posto de lado da equação deste problema. Até porque, do outro lado, em Espanha, por exemplo na região de Miolo, o desaparecimento do rio também uma realidade.  

De acordo com Costa Alves, o meteorologista entrevistado, "o cenário de seca ibérica" e a falta de "previsões de chuva em quantidade agravam o problema". O especialista acrescentou ainda que "num cenário de alterações climáticas o sul de Portugal aproxima-se do deserto do Sahara em 20 anos". 

Em Portugal, especialmente Ponsul e Sever, já é possível ver-se os prejuízos na natureza e na economia local. Várias espécies animais estão em risco, com por exemplo os peixes e as lontras, e a pesca, o turismo e a restauração são sectores que já registam fortes quebras devido aos afluentes estarem praticamente secos. Empreendedores, trabalhadores e população destas regiões não vê perspectivas de recuperação.  

 

 

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