Durante a semana, a ministra Marta Temido esteve no Parlamento a responder a questões sobre o estado de saúde no país, tema também comentado, este domingo, pelo comentador Marques Mendes.
Traçando um quadro negativo no Serviço Nacional de Saúde, com a saída de médicos para o estrangeiro, em número que poderá bater um recorde, o social-democrata apontou dois problemas “sérios” daí resultantes.
Por um lado, “com menos médicos, os hospitais ficam pior”. Por outro, saindo os profissionais mais experientes, “agrava a formação” de novos clínicos.
Quando o ano terminar, estima-se que cerca de 400 médicos tenham saído durante 2019. “Já não acontecia desde os tempos muito difíceis da Troika e ainda pode ser pior”, comentou.
O ex-líder do PSD muniu-se ainda de um estudo europeu – da OCDE e de um observatório de saúde – que “merece reflexão”. Nesse estudo, conclui-se que “os portugueses, em média, pagam mais do seu bolso em questões de saúde do que a média dos europeus” que, por sinal, “têm um poder de compra superior ao nosso”.
Outra das conclusões, resultante da primeira, é que “o Estado investe no SNS menos do que a média europeia”. “Por outras palavras, os portugueses estão a pagar demais e o Estado está a investir de menos comparado com a média europeia”, lamentou.
O investimento resolve os problemas do SNS?
Marques Mendes aproveitou para elogiar a “novidade” dada pelo primeiro-ministro na Assembleia da República acerca da preparação de um programa para combater a sub-orçamentação na saúde. “Por outras palavras, vai haver mais dinheiro. Se isto não for propaganda e for para levar a sério, é uma medida positiva”, considerou, salvaguardando, contudo, que apenas dinheiro “não chega”.
“Os problemas no SNS são de falta de investimento, sem dúvida, mas também são problemas de gestão, de organização, de inovação, de motivação dos profissionais de saúde. Ou seja, não chega só atirar dinheiro para cima dos problemas. Ajuda, é necessário, mas não é suficiente”, defendeu.
Chegados aqui, Marques Mendes disse considerar ser esta uma boa ocasião “para o Governo ponderar uma ideia”. “É uma ideia que aqui deixo que é construtiva. Não devemos só criticar, devemos também ajudar a construir soluções”, prosseguiu.
“Por que não aplicar as regras que deram bons resultados nas PPP [Parcerias Público Privadas] da saúde e aplicá-las nos hospitais públicos?”, atirou, acrescentando: “Com gestores públicos, nos hospitais públicos. Com novas regras de gestão diferentes, de incentivo aos médicos e outros profissionais”.
A fundamentar a ideia, o social-democrata lembrou que as PPP na saúde “tiveram duas questões” - uma ideológica, outra de resultado. “Goste-se ou não das PPP na saúde, os estudos demonstraram que conseguem com menos dinheiro ter mais resultados, conseguem fazer mais e melhor e ter um grau de aceitação muito enorme nos utentes”, destacou.
“Acabaram as PPP, mas as regras que deram bons resultados nessas situações, porque é que não se aplicam nos hospitais públicos?”, questionou, reforçando a ideia.
“Se houver lucro, fica no Estado, aplica-se em novos equipamentos, tecnologia ou em pessoas. Está aqui uma boa oportunidade para, nos hospitais públicos, com gestores públicos, sem deixar de ser o SNS, aplicar regras que podem melhorar o estado da saúde em Portugal”, rematou.