Em comunicado à Lusa, a Câmara Municipal de Coimbra, que cita informação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) enviada à Proteção Civil Municipal, diz que o caudal do rio tem "tendência de subida durante as próximas horas, sendo a situação muito crítica".
No texto, a autarquia de Coimbra adianta que "é expectável uma situação crítica de cheia", recomendando à população que se mantenha "em estado de permanente alerta e a respeitar todas as indicações das autoridades que estão no terreno e sinalização".
A possibilidade da situação crítica de cheia decorre, entre outros fatores, da albufeira da barragem da Aguieira, a montante de Coimbra, no rio Mondego, estar com 94% da sua capacidade, da barragem das Fronhas, no rio Alva, afluente do Mondego estar "no nível máximo de cheia" e ainda da "intensidade elevada e ausência de monitorização do Rio Ceira", outro afluente da margem esquerda do Mondego.
O valor de 2.000 metros cúbicos por segundo (m3/s) que constitui o limite de segurança no açude-ponte de Coimbra está acima do caudal registado em janeiro de 2001 (1.900 m3/s), altura em que se registou uma das maiores cheias de que há memória no Baixo Mondego, potenciada pela rotura de diques a jusante, que levou à destruição de pontes e prejuízos de vária ordem.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da cooperativa agrícola de Montemor-o-Velho, Armindo Valente, manifestou "grande preocupação" que se possa repetir uma cheia idêntica à ocorrida há 18 anos.
"O Mondego está a chegar [em altura] aos limites dos diques e a minha preocupação é que passe por cima e venha algum dique a ceder. E estão a passar 2.000 m3/s [no Açude-Ponte] em Coimbra, que é mais do que em 2001", argumentou Armindo Valente.
O responsável da cooperativa agrícola notou, no entanto, que os descarregadores do rio [sistema de segurança que a partir de uma certa cota de altura, canaliza água do leito principal do Mondego para os campos agrícolas] "estão a descarregar bem mas não em pleno".
Desde o final da manhã de hoje, a Proteção Civil Municipal de Montemor-o-Velho e elementos da GNR estão a evacuar casas localizadas em zonas baixas de povoações ribeirinhas da margem esquerda do rio, como Pereira e Formoselha, por questões de segurança, constatou a Lusa naqueles locais.
Com a rotura dos diques em 2001, o rio Mondego - que corre num canal artificial com cerca de 40 quilómetros entre Coimbra e a Figueira da Foz - saiu do seu leito, inundando várias povoações nas margens direita e esquerda, situação que nunca tinha acontecido desde que o rio foi regularizado no final da década de 1970.
Até então, e antes da construção da barragem da Aguieira (infraestrutura que começou a operar em 1981 e permite controlar os caudais do rio), o Mondego chegou a registar caudais de 3.000 m3/s (1948) e 2.600 m3/s (1977), anos de grandes inundações na planície agrícola, com cerca de 15.000 hectares, que se estende até à Figueira da Foz, de acordo com um estudo sobre o comportamento hidrológico do rio, elaborado em 2005 por investigadores da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.