"Quando nós olhamos para a cidade de Lisboa temos que perceber que aqui se concentram muitos empregos e, portanto, apesar da oferta de transporte público, há demasiados carros a vir para a cidade e isso tem um reflexo direto na qualidade do ar de algumas zonas críticas", disse à agência Lusa o presidente da Zero - Associação Sistema Sustentável Terrestre.
A propósito da atribuição do título Lisboa Capital Verde Europeia 2020, que terá uma cerimónia oficial marcada para hoje à tarde, Francisco Ferreira esteve com a Lusa em três locais da cidade - Campo Grande, Restauradores e zona ribeirinha - onde falou sobre alguns dos maiores problemas ambientais da capital, nomeadamente o aeroporto, o trânsito e o elevado número de navios cruzeiros que passam pelo Tejo.
Na Praça dos Restauradores, na Baixa da cidade, "aquela que é considerada a pior zona em termos de qualidade do ar", embora existam outras também com problemas, desde o Parque das Nações, Cais do Sodré e zonas próximas da 2.ª Circular, o presidente da Zero falou da poluição e dos problemas do trânsito.
"Esta é a zona verdadeiramente nobre da cidade e é uma zona que, em nosso entender, deveria obviamente não ter trânsito ou ele ser extremamente limitado", defendeu.
Na Avenida da Liberdade, onde existe uma estação de monitorização, os valores limites de dióxido de azoto são ultrapassados, em grande parte devido à circulação de veículos a gasóleo, que emitem muito mais poluentes do que os veículos a gasolina.
Portanto, disse o presidente da Zero, "seria desejável que Lisboa também tomasse medidas proibindo este tipo de veículos ou, indo mais longe, e retirando mesmo todos os veículos a combustão e apostando numa mobilidade suave nesta área".
"Lisboa tem realmente grandes problemas relacionados com o trânsito. O primeiro é o espaço que o total dos automóveis ocupa, o segundo é a qualidade do ar. Nesta zona [Baixa lisboeta], os cálculos apontam para que as pessoas vivam menos seis meses, ou seja, perdem seis meses de sua esperança de vida por causa dos níveis associados, quer aos dióxidos de azoto, quer também às partículas que são bastante elevadas", argumentou.
Reconhecendo que a expansão do metropolitano é relevante, Francisco Ferreira considerou que isso não é impeditivo que se faça "uma verdadeira revolução a impedir que muitos dos veículos no dia a dia venham de outros concelhos".
"Precisamos de uma solução ambiciosa para Lisboa nesta matéria", apelou.
Questionado se há vontade política para restringir a circulação de veículos no centro da cidade, o presidente da associação ambientalista disse esperar que sim: "Nós esperamos que haja essa vontade política que haja realmente um aumento de exigência e que surjam planos para esta zona ser vivida por quem aqui quer passear e não por quem vai atravessar aqui [nos Restauradores] e na zona da Baixa.
Francisco Ferreira destacou ainda que outro "aspeto crucial" para o centro da cidade é o facto estar cada vez mais despovoada, já que isso também faz parte do ambiente e da sustentabilidade.
"Ou seja, os preços são como todos sabemos extremamente elevados e temos uma cidade que à noite está completamente vazia a não ser para a diversão, que também tem problemas, nomeadamente em termos de ruído, e não é uma cidade de vivida. Lisboa não é diferente de outras capitais que cada vez estão mais atraentes do ponto de vista turístico, mas tem que saber conter esta fome de transformar tudo em alojamento local e em hotéis", preconizou.