Luanda Leaks. "Os partidos que estiveram no poder foram todos coniventes"

A ex-eurodeputada socialista Ana Gomes espera que "desta guerra ninguém saia bem, nomeadamente, aqueles que são co-responsáveis por ação ou omissão deste tipo de criminalidade organizada".

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Notícias Ao Minuto com Lusa
20/01/2020 11:52 ‧ 20/01/2020 por Notícias Ao Minuto com Lusa

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Ana Gomes

Perante a revelação dos Luanda Leaks, Ana Gomes voltou a insurgir-se. Na TVI24, na manhã desta segunda-feira, a ex-eurodeputada comentou os esquemas alegadamente fraudulentos associados à empresária angolana Isabel dos Santos.

Ana Gomes começou por dizer que é necessário "responsabilizar quem é responsável" e que estes não podem ficar impunes, pois em causa estão "verdadeiros crimes cometidos contra o povo angolano e o Estado Angolano, mas também contra o povo português" porque muitos dos crimes, garantiu, foram "praticados aqui em Portugal, com consequências para Portugal, designadamente a nível da própria fraude fiscal qualificada que o branqueamento de capitais implica".

De seguida, tal como já tinha feito na noite deste domingo, Ana Gomes passou ao ataque e acusou várias entidades portuguesas, como o Banco de Portugal, e políticos, como Durão Barroso, de serem "coniventes" com os esquemas da filha do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

O Banco de Portugal estava farto de saber o que é que se passava e escolheu não agir. As autoridades, incluindo as fiscais, escolheram não agir. Até as autoridades judicias tinham dados para atuar contra Isabel dos Santos desde a Operação Furacão"Há muito tempo que isto se passava. Desde sempre com conivência e até legitimação por parte do poder político de sucessivos governos, com alguns governantes, em especial, desde o tempo de Durão Barroso. Os partidos que estiveram no poder foram todos coniventes com esta legitimação (...). Eu espero que desta guerra ninguém saia bem, nomeadamente, aqueles que são co-responsáveis por ação ou omissão deste tipo de criminalidade organizada que a cleptocracia dos Santos implicou, designadamente, aqui em Portugal", referiu.

E sem papas na língua, como já nos habituou, Ana Gomes continuou: "Temos supervisores, reguladores que não supervisionaram, que não regularam ou, então, o que supervisionaram foi a criminalidade organizada, porque sabiam. O Banco de Portugal estava farto de saber o que é que se passava e escolheu não agir. As autoridades, incluindo as fiscais, escolheram não agir. Até as autoridades judicias tinham dados para atuar contra Isabel dos Santos desde a Operação Furacão. No entanto, houve uma escolha política, que é completamente incompatível com as proclamadas intenções de elevar a relação com Angola ao nível das parcerias estratégicas e ao nível da fraternidade e da amizade. Só se é para cleptocracias, não é certamente em favor dos interesses do povo português e do povo angolano", sublinhou.

Antes de concluir a sua declaração, Ana Gomes quis falar ainda sobre o caso Football Leaks e do arguido Rui Pinto. "É insuportável que a Justiça portuguesa argumente que, em virtude de a origem, eventualmente, ilícita do acesso à documentação, isso não pode dar origem a qualquer procedimento criminal contra aqueles que sejam expostos como criminosos. Isso é absolutamente insuportável! Uma coisa é o acesso ilícito, outra coisa é as autoridades, perante documentos que estão no domínio público, que são do seu conhecimento, que revelam criminalidade organizada, desconsiderarem e justificarem isso com o acesso ilegítimo a sua inação. Isto é de facto um comportamento criminoso", disse.

Recorde-se que, este domingo, foi divulgada uma investigação onde foram identificadas mais de 400 empresas (e respetivas subsidiárias) a que Isabel dos Santos esteve ligada nas últimas três décadas, incluindo 155 sociedades portuguesas e 99 angolanas.

As informações recolhidas detalham, por exemplo, um esquema de ocultação montado por Isabel dos Santos na petrolífera estatal angolana Sonangol, que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para o Dubai.

Os dados divulgados indicam quatro portugueses alegadamente envolvidos diretamente nos esquemas financeiros: Paula Oliveira (administradora não-executiva da Nos e diretora de uma empresa offshore no Dubai), Mário Leite da Silva (CEO da Fidequity, empresa com sede em Lisboa detida por Isabel dos Santos e o seu marido), o advogado Jorge Brito Pereira e Sarju Raikundalia (administrador financeiro da Sonangol).

A ex-eurodeputada tem feito queixas à justiça portuguesa visando operações financeiras de Isabel dos Santos, estando a mais recente a ser investigada pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal, confirmou à Lusa fonte da Procuradoria portuguesa.

Em causa estão os processos sobre a compra da empresa portuguesa Efacec, transferências feitas para o Dubai por parte da Sonangol, e a origem dos fundos para pagar a bancos de direito português relacionados com a joalharia suíça De Grisogno, adquirida com o marido, Sindika Dokolo.

No caso da empresa portuguesa, em causa está a origem dos fundos utilizados na aquisição, com fundos de Malta, com ligações à Empresa Nacional de Distribuição de Eletricidade (ENDE) de Angola.

As transferências da Sonangol, que foi administrada pela empresária, são também objeto de investigações em Angola.

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