António Costa tinha 15 dias para responder ao inquérito do juiz Carlos Alexandre, no âmbito do processo de Tancos, e fê-lo com num prazo de seis dias úteis. As resposta do primeiro-ministro foram tornadas públicas e podem ser consultadas aqui.
No extenso leque de questões preparadas pelo magistrado, o chefe de Governo revela que teve conhecimento do assalto aos Paióis Nacionais de Tancos (PNT) no dia 28 de junho de 2017, "no dia em que o mesmo foi detetado", pelo então ministro Azeredo Lopes. E neste dia contactou "imediatamente Sua Excelência o Presidente da República".
O magistrado que tem em mãos o processo questionou diretamente António Costa se teve conhecimento de que "a recuperação do material de Tancos tinha sido encenada". O socialista foi perentório: "Não".
O primeiro-ministro negou ainda ter tido conhecimento, durante os restantes meses de 2017 e até outubro de 2018, que o arguido Azeredo Lopes soubesse que a recuperação do material tinha sido encenada, "efetuada mediante um acordo com os detentores do material e mediante uma investigação paralela".
Ao juiz Carlos Alexandre, o primeiro-ministro revelou que nunca falou "com o então diretor da PJM [Polícia Judiciária Militar] sobre o assalto a Tancos, nem sobre qualquer outro assunto".
Já questionado sobre se sabe qual a relação entre Azeredo Lopes e o diretor da PJM, Costa afirma: "Desconheço qualquer relação para além da relação institucional".
No documento que foi entregue na terça-feira no Tribunal Central de Instrução Criminal, o chefe de Governo vincou nunca ter falado "com nenhum elemento da Casa Militar da Presidência da República sobre este assunto".
Aliás, "não" é de facto a resposta mais frequente do líder partidário às 100 questões colocadas pelo juiz. António Costa saiu mesmo em defesa do seu ex-ministro, garantindo no processo que considera que "o professor doutor Azeredo Lopes sempre desempenhou com lealdade as funções de ministro da Defesa Nacional".
A divulgação deste conteúdo é justificada pelo Governo pelo facto de terem sido "postas a circular versões parciais do depoimento".
O processo de Tancos tem 23 acusados, incluindo o ex-diretor nacional da Polícia Judiciária Militar Luís Vieira, que já foi inquirido nesta fase, o ex-porta-voz da PJM Vasco Brazão e o ex-fuzileiro João Paulino, apontado como cabecilha do furto das armas, que respondem por um conjunto de crimes que incluem terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça e prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.
O caso do furto das armas foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, tendo a alegada recuperação do material de guerra ocorrido na região da Chamusca, Santarém, em outubro de 2017, numa operação que envolveu a PJM, em colaboração com elementos da GNR de Loulé.