O Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI), que abriu em outubro de 2009, não permite visitas do público para que os animais não se habituem à presença de humanos, o que levou à criação de um miradouro que possibilitava, através de binóculos, avistar alguns linces.
O projeto para criar uma aplicação surgiu após o chamado 'miradouro do lince', situado num ponto alto, a 500 metros do centro, ter ardido, em agosto de 2018, no grande incêndio que deflagrou em Monchique e se alastrou para Portimão e Silves.
"Estamos a estudar com a Câmara de Silves de forma a criar uma aplicação para que, no conforto dos lares, as pessoas possam ver as imagens e a vida dos linces" afirmou à Lusa Joaquim Castelão Rodrigues, diretor regional do ICNF no Algarve.
A intenção é que o público possa visualizar os linces através da tecnologia que permite a monitorização dos cercados com a visualização de imagens, em direto, ou não, a partir do centro, para sensibilizar e aproximar a população desta espécie ameaçada.
O ICNF, juntamente com Câmara de Silves, está a promover iniciativas para dar visibilidade às atividades do CNRLI, já que há a intenção de passar a mensagem para "a sociedade portuguesa e estrangeiros também", revelou à Lusa João Alves, assessor do Conselho Diretivo do ICNF.
O local escolhido há dez anos para criar o centro, junto à barragem do Arade, em Silves, no distrito de Faro, teve em conta a tranquilidade necessária para que os animais se possam reproduzir, sendo, por isso, num local relativamente isolado.
Por essa razão, o local ainda não possui uma cobertura "muito boa em termos de redes de dados", questão que aquele responsável acredita que "será ultrapassada", tornando possível a transmissão de imagens para a aplicação e para um futuro centro de interpretação a criar na cidade de Silves.
A intenção é que o público possa ver imagens reais de linces, quer dos que estão no centro de reprodução, ou até "dos animais em liberdade", já que a razão de existência do centro é reproduzir linces para serem libertados na natureza, sublinhou.
Quanto ao miradouro destruído pelo fogo, criado pelo ICNF e financiado pela empresa Águas do Algarve, a intenção é reerguer a estrutura, criando também "uma zona de repouso para os caminhantes recuperarem forças", adiantou Joaquim Castelão Rodrigues, sublinhando que aquele ponto está inserido num troço da Via Algarvia.
Foi junto ao miradouro do lince que a Lusa encontrou Gérard Devot, que caminhava com um grupo de franceses pelo troço da Via Algarviana que ali passa.
Mostrando-se conhecedor da beleza da serra algarvia, lamentou a "paisagem negra que tem encontrado", mas mostrou-se esperançoso de que, em "dois ou três anos", volte "à sua beleza", até porque, na sua caminhada tem visto "sinais de recuperação".
No grande incêndio de agosto de 2018, que teve início em Monchique, o centro foi obrigado a deslocar os linces para três centros congéneres em Espanha.
Com recurso ao Fundo Ambiental, o INCF recuperou as estruturas do centro afetadas pelo fogo e os animais regressaram na primeira quinzena de dezembro passado.
Durante a intervenção, foram construídos dois cercados de treino, que permitirão treinar os animais antes de serem libertados, deixando-os mais aptos para regressarem ao seu meio natural.
Foram ainda construídos três cercados de recuperação, para além de uma clínica complementar, que vai permitir separar os animais que entrem feridos do exterior, dos que estão no centro.