Numa altura em que um pouco por todo o mundo milhões de pessoas têm sido colocadas em quarentena, por vezes comunidades inteiras, seja no domicílio ou em estabelecimentos de saúde, para evitar a propagação da infeção pelo novo coronavírus, o bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Rodrigues, avisa que é normal que quem se veja obrigado a esse confinamento se confronte com sentimentos como ansiedade, medo, aborrecimento, tristeza ou irritação.
Salvaguardando que por norma isto não é necessariamente algo grave -- exceto se já houver anteriormente alguma fragilidade emocional ou psicológica --, Francisco Rodrigues sublinha, contudo, que é necessário ter alguns cuidados face ao tempo de isolamento indicado.
"Quanto maior o tempo de isolamento, mais cuidados também do ponto de vista psicológico devemos ter e mais prevenção devemos fazer face a esse isolamento", afirma o bastonário em entrevista à agência Lusa.
Quanto a consequências negativas a longo prazo, o que normalmente se designa por situações de stress pós-traumático, o psicólogo explica que são "mais raras" e que habitualmente têm na base "quadros de saúde psicológica", como perturbação de ansiedade, ou pessoas que estejam sob stress muito grande, incluindo os próprios profissionais de saúde.
Para minimizar o impacto, o responsável da Ordem diz que devem manter-se algumas atividades que ajudem a suportar o tempo de isolamento, defendendo: "Será bom dar um significado àquilo que estamos a fazer quando estamos em isolamento".
"Devemos olhar para isso como uma atitude e um comportamento da nossa parte que é de respeito e ajuda para com toda a comunidade, é um contributo que estamos a dar para a proteção de todos. Isso também nos ajudará a sentir melhor, porque dá um significado ao que estamos a fazer", destaca.
Outro aspeto importante é que a pessoa se mantenha informada, "não permanentemente ligada a todas as notícias, porque é uma fonte de stress", mas a fontes fidedignas, alerta, apelando para que sejam consultadas apenas as fontes oficiais.
Manter o contacto com familiares e amigos, através de telefone ou internet, tentar fazer atividades que deem prazer, relaxar, ter rotinas habituais, trabalhar à distância quando isso for possível, observar rotinas de trabalho doméstico, fazer exercício em casa e uma alimentação equilibrada, e ir confiando que a quarentena não dura para sempre e que haverá uma normalização são fatores que ajudam a manter um bem-estar necessário em momentos de privação de liberdade.
Francisco Rodrigues salienta ainda o cuidado acrescido que é preciso ter quando há crianças em isolamento, desde logo aceitar que se possam sentir mais tristes, ansiosas, com medo, confusas, que façam mais birras, mostrar-se mais irritadas e precisarem de mais atenção para se sentirem seguras.
Para o bastonário, é fundamental que os pais ou outros familiares das crianças permitam que elas falem e expressem os sentimentos, que expliquem a importância daquele isolamento, que filtrem as notícias -- evitando a exposição à informação e esclarecendo o que se passa por palavras suas -, e que mantenham atividades em casa e rotinas habituais.
Francisco Rodrigues assinala também que os pais devem olhar para isto pelo lado positivo, tirando partido da situação, como uma forma de terem mais tempo de qualidade com os filhos, fazendo mais atividades em conjunto, como jogos de tabuleiro, desenhos, trabalhos manuais ou tarefas da escola, mas igualmente dar espaço para que tenham tempo para si próprias e poderem de forma não estruturada estarem nas suas brincadeiras, sozinhas ou com irmãos ou familiares.
Relativamente ao local de isolamento, o psicólogo alerta que é mais benéfico ficar em casa, desde que não exista recomendação em contrário por parte das autoridades de saúde.
As recomendações da Ordem dos Psicólogos estão disponíveis na sua página oficial na internet, em www.ordemdospsicologos.pt, em formato escrito e de vídeo.
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