Três especialistas discutiram na Ordem dos Médicos (transmissão por 'streaming') a situação decorrente da pandemia Covid-19. Falaram Filipe Froes, pneumologista e investigador, António Diniz, infeciologista e coordenador da unidade de imunodeficiência do Centro Hospitalar Lisboa Norte, e Francisco Antunes, professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e especialista em doenças infecciosas. Os dois primeiros fazem parte de uma equipa que está a preparar novas normas para o combate à doença e que devem ser divulgadas nos próximos dias.
Os três defenderam que é fundamental impedir que a doença alastre sem controlo (os casos confirmados de infeção subiram hoje para 642), uma forma de os estabelecimentos de saúde terem tempo para conseguir apoiar todos os doentes.
António Diniz falou do que se sabe da doença e de como a evitar (evitando contactos e lavando as mãos com frequência, por exemplo) e disse não acreditar que surja uma vacina para toda a população antes do final do ano.
E Filipe Froes lembrou que o aparecimento de vírus é recorrente, ainda que as pessoas nunca estejam preparadas nem à espera. "Era possível estarmos melhor preparados" e menos dependentes de medicamentos feitos fora do espaço europeu, lamentou.
Lembrando que há um século a gripe espanhola matou 50 milhões de pessoas, o especialista disse que com a pandemia Covid-19 a Europa "não reagiu bem" e "não soube lidar com a incerteza".
Perante a atual situação de contaminação, no entender de António Diniz, é importante tomar medidas para a evitar ao máximo, para permitir que o Serviço Nacional de Saúde não fique sem capacidade.
Sendo certo que 80% dos infetados não serão preocupantes, há 15% que terão de ser internados e haverá 5% que vão precisar de cuidados intensivos e é onde estará o "grosso do trabalho", disse Filipe Froes.
E António Diniz acrescentou: "Quanto aos tais 5% críticos seguramente vamos fazer todos os possíveis para acomodar todas as pessoas" e para isso "retardar o avanço da doença é fundamental".
Francisco Antunes lembrou também que existem sete espécies de coronavírus e que três delas são recentes e que o que está a acontecer com a Covid-19 "era previsível que acontecesse" ainda que ninguém estivesse à espera que tivesse a dimensão que tem.
E como reagiu a Europa? Primeiro ficou chocada com as medidas das autoridades chinesas e depois horrorizada com a situação (muitos mortos e infetados) em Itália, respondeu, acrescentando que Portugal tomou algumas medidas de forma tardia, aliás como todos os países europeus.
O debate foi organizado pela FDC Consulting, uma empresa de comunicação ligada ao setor da saúde, e juntou também as opiniões dos bastonários das ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos, Miguel Guimarães e Ana Paula Martins, respetivamente.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 642, mais 194 do que na terça-feira. O número de mortos no país subiu para dois.
No mundo o Covid-19 infetou mais de 194 mil pessoas, das quais mais de 7.800 morreram.