Suse Antunes é uma enfermeira portuguesa que, tal como centenas de outros profissionais de saúde, esteve este fim de semana a trabalhar e a lutar para combater a pandemia do novo coronavírus, ao contrário de centenas de portugueses que decidiram desrespeitar o Estado de Emergência para passear em família.
Depois de muitas horas de trabalho e de ter perdido os primeiros passos da filha, porque prescindiu de estar com os seus para não correr o risco de os contagiar, Suse foi surpreendida com as imagens dos portugueses que, por todo o país, decidiram aproveitar o sol em vez de ficar em casa e manter a distância social.
A revolta da enfermeira é visível numa publicação partilhada na sua página de Facebook.
“Ora qual não é o meu espanto, quando percebo que neste belo dia em que estive a trabalhar e quando sai da sala de isolamento e retirei o equipamento tinha a cara no estado em que podem ver [foto acima], a malta andou a passear imenso.... Mas que lindos! Toda a gente a caminhar na marginal, toda a gente a fazer grandes aglomerados. Quando se diz que podem sair de casa para dar uma voltinha e manter a sanidade menta, minha gente, é para irem passear o cão, ir levar o lixo, e aproveitar e dar uma volta maior ao bairro e tal, se virem que não há muita gente na rua. E, ainda assim, pelo tempo mais limitado possível. Não é para isto que se viu hoje!”, atirou.
Além da foto onde se notam as marcas da máscara, que Suse diz que muito provavelmente nos próximos dias vão começar a fazer pequenas feridas devido ao excesso de uso, a enfermeira partilhou também a foto de um homem entubado.
“Quando estiverem no estado desse senhor que está ilustrado na imagem [foto acima], eu e os meus colegas lá estaremos para vos receber. E saibam que vamos manter o nosso profissionalismo e apresentar um sorriso sempre que ajudarmos a salvar vidas. Mesmo que sejam as vossas vidas irresponsáveis! Mas depois lembrem-se. Lembrem-se que os profissionais de saúde estiveram lá a dar tudo, a dar o litro enquanto vocês andavam a expor-se ao risco desnecessariamente. Lembrem-se das famílias que estão separadas para não correrem riscos enquanto cuidam de vocês, irresponsáveis!”, sublinhou.
Mas a palavras de revolta da enfermeira não ficam por aqui. “Lembrem-se de que hoje perderam o direito a ir bater palminhas à janela, quando foram fazer o vosso passeio no meio da enchente, porque isso é um verdadeiro desrespeito para com a sociedade em geral e para os profissionais de saúde que andaram a aplaudir. Se nós queremos força? Se nós queremos manifestações de apoio? Claro que sim! Mas de preferência por pessoas que estão a fazer a sua parte para nos ajudar, ficando em casa!”, concluiu a enfermeira.
Recorde-se que, esta segunda-feira, o número de infetados pelo novo coronavírus em Portugal, assim como o número de vítimas mortais aumentou consideravelmente. Desde o dia 2 de março, já foram diagnosticas 2060 pessoas com Covid-19 no nosso país. 23 acabaram mesmo por morrer.