Depois de no domingo o Governo ter decretado o encerramento dos parques de autocaravanismo e campismo e ter dado um prazo até sexta-feira para os seus utentes deixarem essas áreas, a agência Lusa esteve no parque de autocaravanismo da cidade algarvia, localizada junto à fronteira com Espanha, para ouvir as reações de utentes que continuam na zona destinada a estes veículos.
O holandês John Von Santen está no Algarve há um mês e meio e disse à Lusa que, até ao momento, as várias dezenas de autocaravanistas que ainda permanecem no parque de Vila Real de Santo António não foram contactados pelas autoridades sobre o que fazer no futuro e as informações que têm são dispersas e obtidas por companheiros que também se encontram no local.
"Temos que conduzir até casa", admitiu, ao ser questionado pela Lusa sobre o que fará caso tenha mesmo que deixar o parque até sexta-feira, garantindo que "ninguém falou oficialmente" com os utentes.
No entanto, ao final da manhã de hoje, durante a reportagem da agência Lusa, estiveram no parque de autocaravanismo daquela cidade do distrito de Faro equipas da Proteção Civil, das forças de segurança e das autoridades de saúde, sem que nenhuma quisesse prestar declarações, remetendo esclarecimento para a autarquia.
Os parques de campismo e de caravanismo devem, agora, organizar a "saída ordeira e tranquila" dos utentes até sexta-feira, segundo um despacho do Governo publicado no domingo, que permite, no entanto, a permanência dos campistas residentes.
Sobre a possibilidade de terem que deixar os veículos em Portugal e serem repatriados em avião para os seus países, como algumas associações representativas destes coletivos têm avançado, o holandês considerou não ser uma solução.
"Não nos agrada. Não gostamos de aviões, ainda por cima nestas circunstâncias. Todas as pessoas dentro de um avião, com o mesmo ar condicionado, não é nada bom", afirmou, argumentando que na sua autocaravana tem o seu "próprio ar condicionado" e está mais seguro.
Contactada pela Lusa, uma fonte da Câmara de Vila Real de Santo António esclareceu, por telefone, que está ainda a ser feito "um levantamento do número de utentes que permanecem nos parques de caravanismo e campismo do concelho".
Segundo a mesma fonte, só depois desse levantamento serão "tomadas as medidas" mais adequadas, uma vez que há também pessoas que residem nos parques e podem lá permanecer, se já aí residissem quando o Governo decretou o encerramento deste espaços.
Karen Bogerd, outra das caravanistas que ainda permanecem na cidade pombalina, contou à Lusa que, no local, "há pessoas com mais de 80 anos que estão completamente em pânico", que "têm medo" de serem infetados pelo coronavírus e às quais é "pedir demasiado que deixem o parque e depois viagem de avião" para os seus países.
"Penso que deviam criar uma zona segura aqui no parque e ficávamos aqui, cumprindo normas rigorosas", sugeriu, considerando que "no Algarve estão seguros".
Além disso, muitos "não podem ir para França" ou "viajar para a Holanda, a mais de 3.000 quilómetros", porque são "pessoas doentes, que teriam de conduzir sem parar até lá chegar", sem estações de serviço ou equipamentos de apoio a funcionar, pelo caminho.
Sobre a possibilidade de ter de viajar de avião, Karen Bogerd é perentória: "nunca andei de avião, o meu marido é claustrofóbico. Eu não vou de avião".
O marido, Peter Bogerd, também discorda da decisão de fechar os parques e fazer os utentes regressar aos seus países, porque padece de "problemas de saúde no sistema digestivo", demoraria "pelo menos 14 dias até Holanda a conduzir" e "não é possível fazer uma viagem de seguida em tão pouco tempo, pela autoestrada", além de não ter casa à qual regressar.
Por isso, considera que as autoridades portuguesas "deviam deixar todos ficar no parque", onde "há água, eletricidade e supermercados aos quais se pode ir a pé".
"Queremos ficar cá, viemos para cá para ficar no país, encontrar e alugar casa. Deixei a minha casa na Holanda e não tenho nada mais lá. Não viemos em turismo, viemos para ficar", afirmou, argumentando que as autoridades portuguesas "não podem é mandar essas pessoas embora".
Em Portugal, há 23 mortes e 2.060 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral de Saúde. Dos infetados, 201 estão internados, 47 dos quais em unidades de cuidados intensivos.
Portugal encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira e até às 23:59 de 02 de abril.
Além disso, o Governo declarou na terça-feira o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.